Artigo de acadêmicos na Austrália sugere 'cooperação verde' com o Brasil

Lula 2.jfif

Primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, em encontro com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva.

A brasileira Deborah Barros Leal Faria, autora do artigo ao lado de três colegas da Escola de Ciências Sociais da UNSW, em Sydney, explica: "Existe agora um alinhamento em termos de visão de mundo e de prioridade de políticas domésticas nos governos da Austrália e do Brasil com Albanese e Lula. É uma oportunidade boa de os dois países terem um relacionamento melhor por conta dessa afinidade".


Brasil e Austrália não tem um histórico de grandes parcerias comerciais. Entre 2010 e 2019 a Austrália exportou para o Brasil bens no valor total de pouco mais de US$12 bilhões de dólares enquanto as exportações brasileiras somaram pouco mais de US$4.9 bilhões segundo dados da plataforma Comex do Brasil, de comércio exterior.

No que diz respeito a relações comerciais, Brasil e Austrália dependem muito da China. O volume de comércio bilateral entre Brasil e China chegou a US$150.5 bilhões em 2022. Já o comércio bilateral da Austrália com a China cresceu 6,3% em 2020-21, totalizando A$267 bilhões.

Apesar de os dois países terem grandes diferenças e estarem geograficamente muito distantes, um artigo publicado recentemente por três professores e um pesquisador da Escola de Ciências Sociais da UNSW, University of New South Wales, em Sydney,defende uma cooperação mais estreita entre Brasil e Austrália, principalmente nas esferas climática e energética.

Na tradução literal do inglês para o português, o título do artigo, escrito por Deborah Barros Leal Farias, Alexander M. Hynd, William Clapton e Elizabeth Thurbon, é "Austrália e Brasil devem aproveitar a oportunidade para uma cooperação verde mais estreita", com o subtítulo "A distância não deve ser uma barreira ao reconhecimento – e ao reforço – de interesses partilhados".
Deborah
Deborah Barros Leal Farias, professora de Ciência Política da Universidade de New South Wales, em Sydney, é uma das autoras do artigo que defende que o momento é propício para Brasil e Austrália estreitarem suas relações. Source: Supplied
A brasileira Deborah Barros Leal Farias, professora de Ciência Política da UNSW, uma das autoras, explicou alguns pontos tratados no texto, nesta entrevista concedida à SBS em Português.

"Existe agora, como talvez não tenha existido nos últimos 10, 15 anos, um alinhamento em termos de uma visão de mundo e de uma visão de prioridade de políticas domésticas nos governos da Austrália e do Brasil com o [Anthony] Albanese, [primeiro ministro da Austrália] e com o Lula, [presidente do Brasil]. A gente acha que essa é uma oportunidade boa de os dois países terem um relacionamento melhor por conta dessa afinidade, de modo geral, desses dois políticos que estão na liderança".

"A gente acha que são dois países que sofrem de problemas muito parecidos, inclusive a extrema dependência da China [nas relações comerciais], o que significa uma necessidade de diversificar as exportações e as parcerias".

"Uma área que a gente acha que tem uma grande oportunidade para essa aproximação é a área de energia verde, tecnologias verdes. Coisas positivas do ponto de vista ambiental em relação à industrialização, por exemplo".

"Sobre a questão ambiental, são dois países em que há uma certa encruzilhada entre interesses diferentes dependendo dos grupos, de dizer: tem que ter mais emprego, então tudo vale? Há esse debate interno sobre como e o quê priorizar em termos de desenvolvimento e em termos de meio ambiente".

"Do ponto de vista internacional são dois países que tem um peso regional muito grande. O Brasil principalmente na América do Sul e a Austrália no sudeste asiático, no Pacífico. São potências médias que buscam ganhar força no sistema internacional através de organizações internacionais. Eles estão juntos dentro do G20, onde tem oportunidade de questionar grandes potências como EUA e China em relação a certas direções. Então a gente acredita que existem elementos que convergem e que os países não precisam ser idênticos ou vizinhos para caminharem juntos".

"Na esfera acadêmica o que cabe às vezes também é a gente dar uma 'cutucada' em quem faz políticas públicas, colocando em pauta certas discussões. Criando material para mostrar tanto impedimentos quanto áreas onde existe capacidade. Esse artigo por exemplo eu mandei para o pessoal que trabalha na embaixada da Austrália no Brasil".

"Estamos tentando colocar essa pauta no debate, na agenda, inicialmente com um artigo mais simples, para dar um panorama geral, mas nossa ideia é neste próximo ano explorar isso mais a fundo, do ponto de vista acadêmico produzindo artigos científicos, mas possivelmente tendo essa relação com diplomatas e pessoas que trabalham com políticas públicas para mostrar os resultados, o que a gente tem achado. Contribuindo, de forma concreta para um adensamento desse diálogo".

Para ler na íntegra o artigo "Australia and Brazil must seize the chance for closer green cooperation", escrito por Deborah Barros Leal Farias, Alexander M. Hynd, William Clapton e Elizabeth Thurbon, .

Para ouvir a entrevista completa, clique no 'play' desta página, ou ouça no perfil da SBS Portuguese no seu agregador de podcasts preferido.

Siga ano  e ouça . Escute a às quartas-feiras e domingos.

Faça o download gratuito do aplicativo SBS Audio e siga a SBS Portuguese. Usuário de iPhone – baixe o aplicativo aqui na Usuário de Android – baixe o aplicativo aqui no 

Share