Com a guerra na Europa, Portugal acolhe todos os refugiados ucranianos em fuga dos russos

Russia Ukraine Tensions

Países vizinhos da Ucrânia se preparam para milhões de imigrantes à medida que a invasão russa avança Source: AP Photo/Roman Yarovitcyn

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Other ways to listen

Portugal já decidiu dar visto imediato de entrada no país a qualquer ucraniano em fuga da guerra, com prioridade para os muitos, mais de 50 mil, que têm família em Portugal. Os 202 portugueses que residiam oficialmente na Ucrânia, entre eles o treinador de futebol Paulo Fonseca que triunfou no país ao comando do Shaktar Donetsk, já estão a ser retirados do país.


A retirada dos portugueses faz-se necessariamente por via terrestre e sob proteção de agentes do corpo especial da polícia portuguesa destacado para proteger a embaixada e acompanhar a saída de portugueses e de um número ainda indeterminado de luso-ucranianos.

O trânsito está muito lento, um trecho com 2 quilómetros demorou mais de 4 horas a ser percorrido, mas um primeiro autocarro com 35 portugueses já está a salvo na Roménia. Um outro, está a dirigir-se à Moldávia.

Há ainda que apoiar e consumar a saída de muitas mais pessoas portuguesas, no entanto, perante a escalada do cenário militar em Kiev, o ministro português dos Negócios Estrangeiros decidiu suspender as operações de extração, considerando que “a situação tanto na cidade como no percurso está muito difícil, e assim é preciso avaliar, em cada momento, se é mais seguro, se as pessoas ficam mais protegidas, ficando na cidade ou se têm condições para sair”, explicou Augusto Santos Silva.

O aviso deste sábado sucede-se à convicção, pelo próprio Governo da Ucrânia, que as próximas horas serão decisivas e à decisão de impor o recolher obrigatório em Kiev a partir das 17 horas locais.

Portugal tem 1521 soldados e vários meios terrestres aéreos e navais para seguirem para os países NATO com fronteira com a Ucrânia. Ao abrigo da participação das Forças Armadas Portuguesas no âmbito da NATO, Portugal disponibiliza uma “força de reacção muito rápida”, que inclui 1521 militares: 1049 militares prontos a mobilizarem-se no prazo de sete dias e mais 472 militares de reforço, prontos em 30 dias.

Há na opinião pública portuguesa discussão viva sobre se Portugal não deveria ser mais ativo e, correspondendo aos apelos de Kiev, entrar no país e no âmbito NATO, protegê-lo do bárbaro ataque russo.

A resposta oficial portuguesa é a resposta de todos os Estados ocidentais:

Nenhuma democracia tem hoje força moral para iniciar um conflito com uma potência nuclear. O único país disposto a derramar sangue e a causar sofrimento neste momento é a Rússia – mesmo estando longe de saber se o autocrata de Moscovo tem o apoio do seu povo.

Há a noção de que por muito que custe, os tempos da paz certa e segura no continente são passado. Uma nova Guerra Fria teve início. A Rússia assumiu-se como uma potência hostil.

Com o regresso da guerra, o “concerto” europeu do pós-II Guerra Mundial ficou irremediavelmente comprometido. A “velha Europa” de blocos, cortinas, alianças, eixos, cínica e belicosa, está de volta. A Europa essencial, a das democracias, mostra-se desta vez coesa, mas impotente perante o agressor de Moscovo.

77 anos depois, com pelo meio o devastador episódio dos Balcãs em 95, a guerra está de volta à Europa.

Os efeitos, mesmo na outra extremidade da Europa, em Portugal, são imediatos: o disparo do preço dos combustíveis dispara o preço de tudo – ainda que Portugal seja dos raros países europeus que não depende do gás russo. Há um gasoduto que fornece gás argelino.

O porto português de Sines está a ser apontado como uma das portas de socorro à Europa no abastecimento de gás líquido.

A guerra, todos o sabemos, é odiosa. Destrói e deixa feridas incuráveis. Vidas, famílias, casas, cidades e países: nada é poupado. Civis e soldados, novos e velhos ou culpados e inocentes: todos são atingidos. É verdade que há guerras justas e de libertação, bem diferentes das injustas e de opressão ou conquista. É o caso neste ataque de Putin: é uma guerra que põe entre parêntesis o que de melhor tem a humanidade: a moral, o direito, a bondade, Tal como a razão e a justiça.


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