Conan Osíris, o desafiador artista português no palco do Eurovisão 2019

Conan Osiris

Source: Facebook

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Com a canção "Telemóveis", o artista português Tiago Miranda, conhecido como Conan Osíris, será o representante de Portugal no Eurovisão 2019, que começa dia 14 de maio em Tel Aviv, Israel. Esse é o assunto da crônica desta semana do correspondente da SBS, em Lisboa, Francisco Sena Santos.


Ele aí está, Conan Osíris.

Ei-lo no centro do ecrã da televisão, do computador ou do telemóvel, um corpo metido em paninhos brancos, sapatilhas desportivas, máscara e garras douradas.

Apresenta-se assim, foi assim que fez o pleno de votos no festival da canção em Portugal – é assim que vai para a eurovisão, desta vez fora da europa – em Israel – por entre polémicas com fundo político.

É assim, Conan Osíris, artista experimental feito estrela pop, suceso português nos últimos três anos e agora internacionalizado.

Conan Osíris é um artista genuíno — o mesmo no palco e fora dele — que é capaz de fazer música com qualquer coisa.

Todos os sons podem interessar-lhe, diz quem o conhece. 

Conan Osiris – aparece-nos à primeira impressão criatura estranha – é assim que quer aparecer - é alguém que criou um estilo próprio muito antes de chegar ao Festival da Canção, nos discos de 2016 (Música, Normal) e 2017 (Adoro Bolos). 

Conan marca: pela sua linguagem muito própria, mestiça, mas também pela sua cultura visual e de moda bastante fortes, pela sua personalidade estridente dentro e fora do palco, pela capacidade que tem de dividir opiniões: ou se gosta ou se detesta.

O que faz a originalidade de Conan Osiris é a junção de uma série de referências culturais na música: o fado português, especificamente o de Amália, com a quizomba angolana, a música electrónica, a música oriental, tudo combinado com uma imagem forte, e letras que à partida são nonsense mas que têm várias camadas de leitura.

A ambição do artista — uma ambição que está presente até no tema que levou ao festival, Telemóveis — é alterar mentalidades e hábitos sociais através da música.

Conan Osíris é o nome artístico deste português que nasceu Tiago Miranda mas que como artista quer esta outra identidade, Conan Osíris.

Com “Telemóveis”, a música para o festival da Eurovisão, ele apresenta ao mundo um mix de fado, gipsy, arábico, dança, bem como uma história com grande simplicidade de meios, mas eficaz.

Um admirado cronista português, Miguel Esteves Cardoso, define Conan Osíris como um artista total que consegue fazer passar toda a alma para a música: as preocupações, os prazeres, o riso, os divertimentos.

Conan Osíris faz-nos sorrir, faz-nos gozar, dá-nos vontade de viver.

É difícil brincar com a música sem perder o lirismo e a beleza — mas Conan Osiris consegue.

Ainda Miguel Esteves Cardoso, sempre acutilante na crítica musical: a música de Conan Osíris é original, bonita, gozona, lírica, explosiva, genuína e arrebatadora — ao mesmo tempo.

A originalidade dele vem da liberdade com que junta todas as músicas que lhe apetecem.

Não recusa nenhuma. Consegue juntar todas e cantarolar como se estivesse numa cela de prisão sem outra maneira para se entreter.

Conan, na música, cultiva a fusão: está lá o fado, o canto cigano, o canto andaluz, o canto magrebino.

Estão lá os visigodos, os romanos e os mouros.

Está a alma lusa e certamente muito que vai surpreender quem seguir o festival da Eurovisão.

Conan Osíris – a personagem portuguesa para a Eurovisão.

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