De Cabo Verde para o mundo: Nani, campeão dentro e fora de campo

Nani

Source: Getty Images

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Confira a crônica desta semana do correspondente da SBS, em Lisboa, Francisco Sena Santos.


Nani é um dos craques da seleção portuguesa de futebol, ainda que agora, aos 34 anos de idade, e a jogar nos Estados Unidos da América, onde é o capitão do Orlando City, agora em fase de retirada da equipa de Portugal.

Mas, continua a ser campeão da Europa, o título que a equipa portuguesa conquistou em julho de 2016 em Paris quando, na final, a seleção portuguesa surpreendeu a da França e lhe ganhou por 1-0. O golo foi de Éder e Nani foi o capitão desse triunfo, braçadeira passada por Cristiano Ronaldo que, aos 25 minutos de jogo, teve de sair, lesionado, após a entrada dura de um jogador francês.

Nani, aliás, em parte do percurso, seguiu Cristiano Ronaldo. Tal como ele, despontou para alta roda do futebol na equipa do Sporting Clube de Portugal: Cristiano Ronaldo com o número 7 na camisola, Nani com o 17. Ronaldo mais sobre a asa direita do ataque, Nani mais sobre a asa esquerda.

A seguir ao começo no Sporting, Nani, tal como Ronaldo, seguiu para o Manchester United, onde se impôs como titular na equipa de Alex Ferguson, tendo sido por quatro vezes campeão de Inglaterra e duas vice-campeão. 

Um contrato multimilionário levou Nani para o Fenerbahce, na Turquia, depois para a Lazio d Itália, para o Valência em Espanha, voltou ao Sporting e optou por preparar o final da carreira como jogador no Orlando City e liderou a equipa vice-campeã na Liga MLS, dos Estados Unidos.

Nani é filho de emigrantes de Cabo Verde que procuraram teto na Amadora, uma periferia da cidade de Lisboa.

Teve uma infância muito dura. É o próprio Nani quem conta:

“Nós na família éramos muitos e não tínhamos o que comer, o que vestir, tínhamos de repetir sempre. Andávamos com os sapatos rotos, meias cozidas e recozidas. Condições para tomar banho, não tínhamos. Chegámos a viver numa casa, éramos muitos, uma casa que tinha um quarto, que era da minha mãe e do marido dela, tinha uma casa de banho que não tinha sanita, tinha uma banheira mas sem torneiras, nem chuveiro, a água vinha de um regador. Tinha uma cozinha e uma sala. A sala e a cozinha eram túneis de ratazanas e nós dormíamos na sala, uns no sofá e outros no chão. Passámos por isso tudo, passámos por momentos difíceis, mas que eram já um hábito e lutávamos todos os dias para que não se notasse tanto, mas em certos momentos era difícil.”

Nani quer que as gerações de agora não passem pelo mesmo. Com o dinheiro que ganha no futebol criou uma associação, a 360, que tem ajudados crianças migrantes do bairro onde cresceu, na Amadora, e, agora, alarga apoio à terra de origem da família, Cabo Verde.

Nani acaba de decidir um apoio que passa pelo essencial: condições para que a Educação funcione e permita aos jovens desenvolverem-se e prosperarem.

Nani vai quando pode a Cabo Verde, participa em iniciativas de apoio a jovens, joga com eles e viu como algumas escolas não têm condições básicas. Assumiu ele esse encargo: vai suportar o que seria dever do Estado, vai pagar a qualificação de duas escolas, frequentadas por uns 800 alunos.

Não é caso único, mas é um exemplo, este campeão que se fez no futebol, Nani.


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