Entenda o escândalo de corrupção envolvendo apostas que chacoalha o futebol da Austrália

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Clayton Lewis, o capitão Ulises Dávila e Kearyn Baccus são os três jogadores do Macarthur FC acusados pela polícia de envolvimento num esquema de manipulação de cartões amarelos. Um quarto nome ainda não revelado também está sendo investigado.

A polícia acusa três jogadores do Macarthur FC de terem tomado cartões amarelos deliberadamente em jogos da A-League com o objetivo de manipular apostas na América do Sul. Um quarto atleta cujo nome ainda não foi revelado também é suspeito. O esquema é um golpe na já combalida liga de futebol do país, que vive problemas financeiros graves e pouco apelo na tevê.


O mundo do futebol da Austrália - o nosso futebol, que eles chamam de soccer - está abalado com o escândalo de corrupção a envolver jogadores da A-League e um suposto esquema de apostas esportivas.

A polícia acusa três jogadores do Macarthur FC, da região sudoeste de Sydney, de supostamente terem tomado cartões amarelos de propósito em partidas do campeonato nacional, com o objetivo de manipular apostas no exterior. Um quarto jogador, ainda não identificado, está sendo interrogado pela polícia por ser suspeito de também participar do esquema.

O Macarthur FC, disputa a A-League, o campeonato australiano de futebol, desde 2020. Os atletas que tiveram os nomes revelados são o capitão mexicano Ulises Dávila, o australiano Kearyn Baccus e neozelandês Clayton Lewis, que já defendeu a seleção de seu país. A polícia fez busca-e-apreensão na casa dos três atletas.

A polícia alega que uma figura do crime organizado da América do Sul instruiu Ulises Davila, o capitão da equipe, a organizar a ocorrência de cartões amarelos.

Eles alegam que Dávila pagou aos companheiros de equipe Lewis e Baccus 10.000 dólares cada por tomarem cartões deliberadamente.

As partidas afetadas aconteceram no ano passado – uma em dezembro, contra o Sydney FC, e outra em novembro contra o Melbourne Victory.

Neste partida contra o clube de Melbourne, o árbitro do jogo distribuiu cinco cartões amarelos aos jogadores do Marcarthur. Segundo a investigação policial, o quarto cartão amarelo engatilhou centenas de milhares de dólares pagos a apostadores sul-americanos.

A polícia diz que esses jogadores tentaram novamente um acordo de manipulação em partidas de abril e maio deste ano, mas sem sucesso.

Em comunicado, o Macarthur FC afirma que o clube está “chocado e ciente da atuação da polícia”, e que “a integridade do nosso jogo é um pilar fundamental e trabalharemos em estreita colaboração com todas as entidades relevantes neste assunto”.

O comissário assistente da policia de Nova Gales do Sul, Michael Fitzgerald, diz que o incidente é altamente prejudicial para o esporte e traiu a confiança dos torcedores.

"Todos os fãs de esportes entendem que mesmo um pênalti pode mudar a forma como um jogo flui, e também a forma como o ímpeto desse jogo pode ser realizado. Alegaremos que a atribuição de quatro cartões amarelos e as penalidades subsequentes que surgiu desses cartões, poderia de fato mudar a forma como foi o resultado daquele jogo. E alegaremos que esses incidentes em novembro e dezembro de 2023 traíram a confiança de seus torcedores."

O presidente da Australian Professional Leagues, Stephen Conroy, alertou os jogadores para não se envolverem em atividades de apostas ilegais.

"Para qualquer jovem jogador de futebol ou jovem atleta de qualquer esporte: não vale a pena cair nessa armadilha."

O detetive superintendente Peter Faux, do Esquadrão do Crime Organizado da Polícia de Nova Gales do Sul, diz que os investigadores até agora não identificaram nenhuma aposta ocorrida na Austrália. Segundo ele, estas apostas aconteceram "predominantemente na América do Sul".

"Podemos dizer conclusivamente e estamos alegando que há várias centenas de milhares de dólares sendo pagos em relação ao jogo em que isso supostamente ocorreu. Mas como eu disse, há vários dados para analisar em todo o mundo, em todas as agências de apostas."

O escândalo da manipulação de cartões amarelos para beneficiar apostadores é um grande golpe na combalida A-League, que está sob forte pressão financeira.

O Canal 10, que tem os direitos de transmissão na TV aberta, deixou de transmitir os jogos no canal 10 normal para passá-los no 10Bold, que tem índices de audiência muito menores.

A Australian Professional Leagues (APL), que detém os direitos da A-League, tem sido com frequência obrigada a compensar financeiramente a Paramount, que detém os direitos de transmissão no pay-per-view, por não conseguir atingir um número predeterminado de assinantes.

Com problemas financeiros, a Australian Professional Leagues está em negociação com os clubes para o orçamento deles para a próxima temporada. Na mesa hoje, uma proposta de dar aos clubes apenas 500 mil dólares por temporada - os clubes esperavam dois milhões.

Essa quantia pode colocar em xeque a participação de alguns dos clubes - o Perth Glory, por exemplo, entrou em colapso financeiro, e o Newcastle Jets foi vendido após oito meses de buscas por um novo comprador.


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