Epidemiologistas portugueses avisam: vamos continuar por muito tempo a ter mortes por Covid-19

St Vincent's Hospital Prepares For Influx Of Patients As Australia Begins To Feel After Effects Of COVID-19 Lockdown

Source: Getty Images AsiaPac

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Confira a crônica desta semana do correspondente da rádio SBS, em Lisboa, Francisco Sena Santos.


Aviso de investigadores do Instituto Nacional de Saúde de Portugal, o Instituto Ricardo Jorge: não se espere que desapareçam as mortes diárias por Covid-19. Zero mortes é um cenário que não é realista nem plausível.

Morrem agora por dia, em média, 12 pessoas com covid em Portugal. Isto significa 24 vezes menos do que no final de janeiro, quando Portugal passou pela pior vaga da epidemia. Com algumas oscilações, a mortalidade tem-se mantido baixa nos últimos cinco meses, comprovando a proteção conferida pelas vacinas.

Mas, não se deve esperar que as mortes por covid desapareçam totalmente e que os boletins diários passem continuamente a apresentar zero óbitos: isso aconteceria se o vírus fosse totalmente erradicado, o que, explicam os especialistas, não é expectável que aconteça.

O mais provável é que a covid-19 passe a ser uma entre outras causas de morte, e por isso médicos e outros peritos consideram que é altura de começar lentamente a diluir o foco nos números, sem deixar de monitorizar as variantes nem perder de vista a proteção dos mais frágeis e dos mais idosos.

Insistem: “A vacinação reduz a gravidade desta infeção, e por isso o número de óbitos e o seu impacto na mortalidade por todas as causas será, a partir de agora, muito mais reduzido do que nos anteriores meses de pandemia. Mas, reforçam, não é plausível eliminar a mortalidade por covid-19. O esperado é reduzir a maio­ria, mas não a totalidade dos óbitos”, indicam os investigadores do Departamento de Epidemiologia do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), lembrando que nenhuma medida de prevenção é 100% eficaz — nem para a covid nem para outras infeções que não tenham sido completamente eliminadas da população.

Uma das dúvidas que subsistem é sobre o tipo de circulação que o SARS-CoV-2 terá daqui em diante. Se for sazonal, como a gripe, “também a mortalidade deverá apresentar a mesma sazonalidade, com valores diários distintos dos que poderão ser observados se a doença for endémica”, explica o Instituto Nacional (português) de Saúde. E para controlar e reduzir o impacto da covid-19 na mortalidade, tal como acontece com infeções respiratórias como a gripe, “com elevado impacto na mortalidade nos meses de inverno”, é preciso proteger a população mais frágil, “nomeadamente os idosos e doentes crónicos”.

Essa proteção passa pela vacinação contra a covid-19 e contra a gripe sazonal, mas também pelo “uso de máscara em espaços fechados e por evitar aglomerações e contactos com pessoas com infeções respiratórias agudas”.

O raciocínio em relação à covid-19 está a ser semelhante ao que existe em relação à gripe, que todos os anos causa mortes. A vacina da gripe permite uma diminuição da gravidade que salva muitas vidas, mas ainda assim há internamentos e mortes. Não se trata de uma falha, é apenas porque a vacina não resolve tudo. Está a crescer a discussão sobre assegurar a continuidade da vacina. Para já, ganha sustentação o recurso à terceira dose da vacina.


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