Há outras diferenças: Lamine Yamal tem bom rendimento nos estudos e sobretudo, impõe-se como um génio do futebol.
Com idade de junior, apenas 16 anos, fez todos os seis jogos da fase final do Euro deste 2024, jogado na Alemanha, sempre como titular da seleção espanhola. Lamine é titular indiscutível da seleção principal, de seniores, de uma potência futebolística como é a Espanha.
Foi no jogo da semifinal, a Espanha diante da França, que Lamine entrou para a história do futebol e o mundo amante da bola ficou a despertar para um supercraque do futebol.
A expectativa nessa semifinal era o francês Mbappé, agora transferido do PSG para o Real Madrid. Mas a figura, afinal, foi Lamine, o miúdo do Barcelona.
É facto que os franceses puseram-se a ganhar logo aos 9 minutos de jogo.
Viralizou nas redes sociais uma foto de Lionel Messi segurando Yamal, ainda bebê, no colo. A imagem, há muito tempo esquecida, reapareceu depois que o pai de Yamal a postou no Instagram. Os dois se encontraram para uma campanha do Barcelona.
O golo de Lamine recolocou a Espanha em posição para ganhar, como veio a acontecer, e entrou para a história do futebol porque, para além de lance genial, também estabeleceu um recorde que será difícil de bater: nunca um rapaz com apenas 16 anos tinha feito golo numa semifinal do europeu de seniores em futebol. E num jogo transcendente, com etiqueta de final antecipada.
Lamine seria a figura do jogo e já há apostas em como não tardará a ser considerado o futebolista do ano. Subitamente, o nacionalismo espanholista mais ultra que contestava um jogador de pele escura em “la roja” (assim é conhecida a seleção espanhola) deixou de gritar a Lamine que vá jogar para Marrocos, a terra do pai. Lamine punha a seleção espanhola às portas da glória futebolística.
Lamine chegou aos 17 anos na véspera da final Espanha-Inglaterra, e toda a gente está com olhos nele: tem caráter, bravura, ousadia, arte para jogar a bola, inteligência posicional, generosidade dentro do campo, remate forte, pujança física. É mesmo um craque.
Lamine é filho dos migrantes Mounir e Sheila.
Mounir Nasraoui é marroquino. Ele buscava a idealizada vida melhor quando atravessou o Mediterrâneo e conseguiu chegar Barcelona.
Nesta cidade catalã ele conheceu Sheila Ebana, natural da Guiné Equatorial. Ela engravidou logo aos primeiros encontros. Tinha 16 anos quando Lamine nasceu; Mounir, 21 anos.
As coisas não correram bem ao casal que depressa se separou. Lamine saltou para a casa dos avós, bem como da casa dos avós, ali perto, Plaza Joan XXIII que tem ao lado a sede do clube de futebol de bairro, Rocafonda.
Sempre com a bola, eterno aliado das crianças que precisam fugir da dura infância dos bairros invisíveis, Lamine aos 6 anos já dava nas vistas: “Ele tem futebol de rua: drible, destemido, apto a jogar com gente maior,” comentário de um olheiro do futebol..
Mounir, o pai, saltitava de emprego em emprego. Sheila, a mãe, conseguiu trabalho num McDonald's e reconstruiu sua vida.
Para Lamine, a distância entre os pais traduziu-se num turbilhão difícil de processar. Refugiava-se no futebol. Um olheiro recomendou-o à academia do Barcelona, então no topo do futebol europeu.
Lamine chegou à academia juvenil do Barça aos 7 anos.
Deu logo nas vistas: controle impressionante, a rematar com um jeito especial, mestre a fintar, como ninguém.
O Barcelona deu a Lamine uma bolsa de estudos. O dinheiro era administrado pelo pai. No entanto, essa administração, era mais um problema do que uma solução.
A gestão do Barça decidiu tomar conta do crescimento e do futuro de Lamine: protegê-lo das instabilidades familiares, puxar por ele no futebol e nos estudos.
O empresário português Jorge Mendes, em articulação com o luso-brasileiro Deco, passaram a conduzir o apoio ao crescimento de Lamine.
Jogou nas camadas mais jovens, sempre com grande destaque, até 29 de Abril de 2023. Nesse dia, com apenas 15 anos e 9 meses, substitui Gavi num jogo da Liga espanhola contra o Bétis de Sevilha.
O miúdo passava a jogar com os seniores, aos 16 anos chegou à seleção, fez 17 anos na véspera de jogar a final do europeu.
Há quem, talvez com ousadia deslumbrada, o compare com Pelé e com Messi.
Lamine Yamal ainda não tem idade para poder conduzir automóvel. Mas o miúdo do bairro problemático agora tem um chofer em permanência.
E todas as portas se abrem com aplausos para ele.
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