Grupo de homens brasileiros se reúne em Gold Coast para discutir relações sociais, familiares e afetivas

Man to man

Integrantes do grupo de brasileiros Man to Man em uma das reuniões realizadas em Gold Coast. Source: Supplied

O grupo Man2Man, que faz reuniões presenciais a cada quinzena, estimula nos integrantes o autoconhecimento, a aceitação da vulnerabilidade e da sensibilidade através de rodas de conversa


Foi depois de se divorciar que Rafael Wescher, pai, engenheiro e empreendedor curitibano, na Austrália há 15 anos, teve a ideia de criar um grupo de homens para compartilhar experiências, sentimentos, dificuldades e até mesmo trocar confidências.

Rafael percebeu que muitos homens se sentem perdidos por não se encaixarem no modelo de provedor e chefe de família que nunca se desestabiliza emocionalmente, que sempre sabe como resolver os problemas e lidar com diferentes situações.

Grande parte desses homens também repudia a imagem da figura masculina que controla os relacionamentos familiares e amorosos, e em muitos casos abusa dessa “autoridade” e usa de violência física e psicológica contra suas parceiras e filhos.

Rafael, que já havia participado de outros grupos e estudado o corpo e a mente humana, viu na criação do Man2Man a oportunidade de reunir homens brasileiros que moram na região de Gold Coast para trocar impressões sobre temas relacionados à masculinidade e ao papel do homem na sociedade atual. Para que cada participante pudesse, através da troca de impressões e experiências, se conhecer melhor e se despir de preconceitos relacionados à exposição de sentimentos e à vulnerabilidade.
Encontro do grupo Man to Man
Nas reuniões, os integrantes do grupo Man to Man sempre sentam em roda, e todos tem a sua vez de falar. Source: Supplied
Segundo Rafael, com a criação de um ambiente onde os integrantes do grupo se sentem seguros e confortáveis, o sistema nervoso permite que eles se abram para serem tocados em lugares que geralmente não acessam. Assim, o sistema de defesa é desarmado, e o que é refletido nas conversas, acaba sendo internalizado de um jeito muito tranquilo e natural. A partir daí, quando tem lidar com uma situação específica, ou mesmo no trato com outras pessoas fora do grupo, eles acabam agindo de forma diferente, de acordo com aquilo que foi absorvido nas reuniões. 

O pernambucano Italo Almeida integra o Man2Man há um ano e meio. Ele veio sozinho para a Austrália como estudante há mais de dois anos e começou a frequentar o grupo por indicação de um amigo, para conhecer pessoas. Italo diz que sente uma evolução maior a cada encontro, no sentido de se conhecer melhor e se abrir mais, não só a partir das próprias reflexões, mas também a partir do que os outros participantes compartilham. 

Ele teve uma criação conservadora, e diz ter se libertado de muitas amarras e de padrões que ele seguia só por causa das referências que tinha, mas que eram comportamentos e atitudes que questionava desde criança. Ele cresceu acreditando, por exemplo, que homem não deve chorar.

"Toda essa construção direciona você pra uma coisa que não é real. Homem também tem sentimentos, e eu tenho que entender todos esses fluxos que passam por mim", destaca Italo. Estar no grupo o fez se atentar à importância de externar as emoções para conseguir entender o que sente. "Eu considerava que demonstrar os sentimentos era uma fraqueza. Hoje eu vejo que isso me dá mais coragem para me expor em situações do dia-a-dia."
Perguntado sobre como é a dinâmica dos encontros, Rafael diz que nem sempre há um tema definido a ser discutido nas rodas de conversa. O tópico pode surgir através do depoimento de um dos participantes. Mas já houve reuniões pautadas previamente, como a vez em que uma mulher vítima de abuso foi convidada a contar ao grupo o que tinha passado. O resultado dessa experiência, para Rafael, foi que "nós passamos a entender melhor a visão feminina com relação à objetificação da mulher, e discutimos sobre a forma abusiva com que determinados homens tratam as mulheres". 

Italo sabe que as influências culturais e sociais que teve no decorrer da vida moldaram a visão e as atitudes dele com relação ao machismo, à masculinidade tóxica e ao consumo de pornografia, por exemplo. Ele não se questionava antes sobre temas como esses, sobre a forma como lidava com eles, e diz que "é importante trazer à tona assuntos que são considerados tabus, e quebrá-los. Tudo tem que ser falado e entendido." 

Italo fez grandes amizades no grupo. Pessoas com as quais, segundo ele, é possível sentar no bar para tomar cerveja e falar amenidades, mas que também estão abertas a conversar sobre assuntos mais sérios e profundos. Ele destaca que "a conexão entre a gente é grande porque no grupo nós falamos de coisas íntimas, por isso nos aproximamos mais e vibramos com o desenvolvimento de cada um."
Atividade Man to Man
Além das rodas de conversa, o grupo também faz atividades em meio à natureza. Source: Supplied
O grupo é aberto para quem quiser participar, mas por enquanto os encontros são feitos apenas em Gold Coast e Byron Bay. Segundo Rafael, um grupo similar está iniciando as atividades em Sunshine Coast, e ele já recebeu o contato de pessoas de outras cidades como Perth, Sydney e Melbourne, interessadas em saber mais sobre o formato dos encontros. Ele torce para que outros grupos de homens que falam português sejam formados em diferentes regiões da Austrália. "Para que um dia a gente não precise mais formar grupos de homens, e possamos nos reunir em grupos mistos em que todos, homens e mulheres se sintam seguros para trocar impressões, sentimentos e reflexões", completa.  

é um serviço de aconselhamento gratuito para homens que estejam enfrentando problemas de relacionamento, violência doméstica, saúde mental, vício, ansiedade, estresse, separação. A ajuda é oferecida por telefone e online, por chat e chamadas de vídeo. 


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