Morte de brasileira no aeroporto de Sydney não está sendo tratada como suspeita pela polícia no momento

Amanda de Oliveira Rocha

Retrato de Amanda de Oliveira Rocha em posse de sua família, em São Bernardo do Campo (SP): até o momento, a família tem muitas perguntas e poucas respostas sobre a morte da estudante brasileira em Sydney.

Amanda de Oliveira Rocha, de 22 anos, foi encontrada morta no estacionamento do aeroporto após fazer check in para voltar ao Brasil. Família de São Bernardo do Campo (SP) ainda busca respostas em meio ao luto, mas encontrou apoio na comunidade brasileira na Austrália, que em 48 horas contribuiu em massa para bater a meta da 'vaquinha' de 100 mil reais para os custos de repatriação do corpo da estudante.


Pontos principais
  • Amanda de Oliveira Rocha foi encontrada morta no lado de fora do aeroporto de Sydney em 14 de janeiro.
  • A polícia de NSW informou tratar-se de um incidente relacionado a autoagressão.
  • Com apoio de brasileiros na Austrália, a família conseguiu levantar em 48 horas 100 mil reais (por volta de 30 mil dólares) para o traslado.
As comunidades de brasileiros na Austrália e principalmente de Sydney no Facebook tiveram contato com um chocante pedido de ajuda no último fim de semana.

Os irmãos Aline e Régis Oliveira, de São Bernardo do Campo, em São Paulo, relataram a morte da prima Amanda de Oliveira Rocha, de 22 anos, na base do prédio do estacionamento do aeroporto de Sydney na manhã do domingo, 14 de janeiro. O mais inesperado é que Amanda já tinha feito o check in no aeroporto para voltar ao Brasil.
Amanda de Oliveira Rocha
Amanda de Oliveira Rocha, em foto fornecida pela família.
Segundo a família, Amanda, que vivia na Austrália desde março de 2023, veio para Sydney no sábado 13, de Darwin, onde morava e reservado hotel por uma semana.

Na madrugada de domingo, 14, ela repentinamente decidiu voltar ao Brasil e foi até o aeroporto com as malas, onde conseguiu comprar passagem, enquanto mantinha conversação constante pelo telefone com a família.

Após o check in, Amanda desligou o telefone e a família não teve mais notícias dela, até a ligação do Consulado do Brasil em Sydney na segunda-feira, 15, madrugada no Brasil, avisando da morte de Amanda, fora da área de embarque do aeroporto, no estacionamento.

A SBS em Português entrou em contato com a polícia de Nova Gales do Sul. O departamento de Comunicação respondeu tratar-se de um incidente relacionado a autoagressão.

A SBS em Português entende que não há, no momento, pessoas suspeitas ou por trás da morte trágica de Amanda.

Em São Bernardo do Campo, a família de Amanda de Oliveira Rocha vive o dilema de ter que lidar com a morte inesperada da jovem de 22 anos, bem como a dificuldade em obter maiores informações sobre o ocorrido, e o valor exorbitante do traslado do corpo.

A mãe de Amanda, Agimaria Ramos de Oliveira, está em choque e não tem condições de falar com a imprensa.

Quem fala em nome da família neste momento é o primo de Amanda, Regis Oliveira.

Em meio à dor da tragédia, Regis falou à SBS em Português e relembrou Amanda como uma pessoa cativante, diferenciada e que estava na Austrália para tentar uma vida melhor para ela, para a mãe e seus dois irmãos, Luiz Guilherme, e Elisa.

Regis também agradece ao apoio dos brasileiros na Austrália, que rapidamente ofereceram ajuda e contribuíram ativamente para a “vaquinha”, que arrecadou em 48 horas 100 mil reais, por volta de 30 mil dólares australianos, para levar o corpo de Amanda de volta ao seu país natal. Nesta quarta-feira, início da madrugada no Brasil, Régis Oliveira confirmou que a meta foi alcançada.

Regis, como você pode descrever a Amanda pra gente?

Regis Oliveira: Nós somos primos. A Amanda morou na minha rua por mais de 15 anos, a gente praticamente compartilhou a mesma infância. Eu sou um pouco mais velho que ela. De modo geral, a gente esteve muito próximo durante a infância.
A Amanda era uma pessoa cativante, cara. Bastava uma conversa pra perceber que ela tinha algo diferenciado, totalmente fora da curva.
Regis Oliveira, primo de Amanda de Oliveira Rocha.
Sempre com um sorriso no rosto, muito alegre, ela gostava bastante de reunir a família, de estar nos momentos em família, de fazer piada, de dar risada. De ouvir música, de dançar. Era uma pessoa que sempre tava com o astral lá em cima, com muita energia, sabe? Contagiava de verdade. Tanto que em todos os trabalhos que a Amanda passou, sempre teve um reconhecimento, sempre teve destaque desde muito nova. Trabalhava em uma fábrica de balanças (em São Bernardo), ela chegou a ser destaque várias vezes, até mesmo saindo em revistas como destaque. Aqui no Brasil trabalhou como inspetora de qualidade, posteriormente foi na área da logística numa empresa em Ribeirão Preto. Depois fez o intercâmbio pra Austrália, onde acabou trabalhando parte como faxineira, como serviços gerais de pintura, reforma, etc.

Como receberam a noticia da morte?

Regis Oliveira: É uma situação que deixou a gente bem chocado, jamais esperava isso. Inicialmente a gente tava em contato com a Amanda até o momento em que ela estava dentro do aeroporto de Sydney no dia 14. Domingo, mas pra gente aqui ainda era o sábado, até as 19h30 do sábado. A Amanda estava muito ansiosa para vir logo ao Brasil. O último contato que a gente teve com ela foi no momento em que ela desligou para passar no detector de metais. Amanda estava na fila para o embarque. E na sequência ela desligou a ligação pra passar na fila e não tivemos mais contato. No domingo, nada, a gente muito preocupado, mas confiante de que fosse devido a escala, problema com celular, o voo tinha uma escala no Chile. Quando foi no domingo pra segunda, por volta das três da manhã, o Consulado acabou fazendo uma ligação para minha tia, contando que havia encontrado a Amanda (morta). Encontrou também os pertences dela, bolsas, documentos. Foi o choque pra família, a notícia que nos abalou demais.
Amanda de Oliveira Rocha
Amanda de Oliveira Rocha.
A gente está em contato com o consulado desde o início do ocorrido, foram eles que nos notificaram. (...) Então além de toda a dor do luto, a gente ainda está sofrendo com esta demora, falta de respostas, falta de amparo. Tem até uma questão diplomática aí, política, que é o translado do corpo. É uma situação em que a minha família estaria totalmente despreparada para receber um prejuizo financeiro tão grande - a gente tá falando de mais de 100 mil reais. A Amanda faria o seguro de vida que faria a cobertura de tal incidente, então a gente realmente foi pego muito de surpresa por toda a situação. Não dá pra gente entender muito bem, poxa, era uma pessoa que estava legalmente, com a documentação em dia, trabalhando, saiu daqui na condição de estudante... e a Amanda saiu com o sonho de realmente conseguir uma vida melhor pra ela e pra família dela. A Amanda veio de uma família extremamente simples, foi criada por mãe solteira, a mãe trabalhou 24 horas por dia pra sustentar ela e os irmãos. Todas as conversas que a gente teve, da vontade dela de ir buscar essa oportunidade no exterior... O que nos revolta é esse desamparo que o governo dá, poxa, é uma pessoa brasileira que pagava os seus impostos, acontece uma fatalidade dessa proporção, e o governo nos desampara. Além da dor do luto, a dor de não ter resposta pra tudo que está acontecendo.

Qual a situação da mãe da Amanda neste momento?

Regis Oliveira: Ela mora próximo de mim, está totalmente desolada. Até solicitaram ela em entrevista, mas ela não está em estado psicológico que favoreçam esse tipo de coisa. Eu, Roger, e o irmão dela, o Guilherme, estamos buscando ao máximo correr com esse processo e representar a família.

A Amanda estava trabalhando em Darwin, chegou em Sydney no sábado. Chegando em Sydney, ela fez a reserva de um hotel próximo ao aeroporto por uma semana, que era o período que ela comentou que estaria fazendo algumas viagens em Sydney, pra conhecer, porque até então ela só tinha trabalhado, não deu tempo de conhecer os pontos turísticos. Ela fez a reserva desse hotel de uma semana no sábado. No domingo de madrugada, juntou todas as malas, fez o checkout da estadia paga, e foi ao aeroporto sem ter passagem, sem ter absolutamente nada.
Nosso foco principal hoje é trazer a Amanda de volta para que pelo menos possa prestar uma última homenagem, se despedir dela de uma forma digna, como todos nós merecemos, e que pelo menos ela esteja próxima da família, para que a família possa prestar as devidas homenagens
Regis Oliveira, primo de Amanda de Oliveira Rocha.
Regis Oliveira: A gente tem também (um perfil no) , onde fazemos toda a divulgação do caso. Todos os links da vaquinha. Em breve a gente vai preparar um memorial de fotos da Amanda. Quem puder acompanhar lá de verdade, a gente está muito grato por tudo que já fizeram, quem puder contribuir, a gente está de peito aberto, e contribuir com o que for necessário. Muita gente disposta a ajudar de verdade.
Preciso prestar minha gratidão (aos brasileiros na Austrália) especialmente pelos grupos de Facebook, que nos apoiou de uma forma até inesperada. Pessoal foi muito acolhedor, contribuiu bastante com a vaquinha até o momento, e foi muito solícito em tudo que a gente precisou.
Régis Oliveira, primo de Amanda de Oliveira Rocha.
Regis Oliveira: Inclusive foi através deles (dos brasileiros na Austrália) que a gente conseguiu o maior número de informações até o momento. A gente tava sem nenhuma informação até quando minha irmã psotou em alguns grupos de Facebook, e as pessoas que trabalharam com ela, o ex-chefe dela acabou surgindo. A gente conseguiu chegar até essas pessoas pra coletar mais informações dos fatos que aconteceram, porque a gente tava com até mais dúvidas do que estamos hoje.
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Se você está se sentindo deprimido ou com pensamentos muito ruins, ligue gratuitamente para o LIFELINE no 13 11 14, que funciona 24 horas por dia, sete dias por semana, ou procure pelos sites do lifeline ou beyondblue.

Há também o escritório de serviços australianos em todos os idiomas na linha 131 202, se precisa de ajuda com tradução.

Você também pode visitar uma lista completa de sites online que oferecem ajuda na Austrália através deste link gogentleaustralia.org.au


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