Um dos criadores da estética afro-baiana é uma das atrações da Bienal de Artes de Sydney

Alberto Pitta

Alberto Pitta: O pano é base para me expressar e isso a gente leva para o carnaval. Agora a gente chega às galerias. Estar em Sydney participando da Bienal é um sinal de que nós estávamos certos há 45 anos, disputando espaços com artistas da classe média branca brasileira e que estão muito bem posicionados."

Alberto Pitta desenvolveu a identidade negra única do carnaval soteropolitano nas últimas décadas a partir do seu trabalho com tecidos. Hoje ele apresenta as histórias de seus panos em algumas das maiores exposições de artes do mundo, inclusive na 24ª Bienal de Artes de Sydney, onde é um dos artistas brasileiros a expor. Conversamos com ele em sua visita à cidade.


Quem é de Salvador talvez tenha contato mais intenso com a dimensão da obra do artista Alberto Pitta. Nascido no seio da comunidade negra da capital mais negra do Brasil, ele é talvez o principal nome do desenvolvimento estético do carnaval soteropolitano, que nas últimas cinco décadas abraçou a ancestralidade africana para aflorar uma identidade sem paralelo.

Alberto Pitta assina um sem número de trabalhos em tradicionais blocos populares, como o Ilê Aiyê, Filhos de Gandhy e Oludum, entre muitos outros, e é idealizador e diretor artístico do Cortejo Afro.

Alberto Pitta
Alberto Pitta, nos estúdios da SBS em Sydney.

Mas se o Carnaval é onde a arte de Alberto Pitta aflorou, ele é também uma ponte.

De um lado desta ponte está a origem artística dele a partir da observação do trabalho de sua mãe, a educadora Anísia da Rocha Pitta e Silva, conhecida como Mãe Santinha de Oyá, que fazia bordados em uma técnica conhecida como richelieu.
No início da década de 1970, os negros baianos tinham uma forma de se vestir. Depois do Ilê Aiyê, tudo muda. São as explosões das cores, dos ritmos, dos signos, dos cheiros. É o que marca nossa cidade e o meu trabalho.
Alberto Pitta.
Do outro lado da ponte está o mercado internacional de artes, exposições em bienais e grandes eventos artísticos em países como França, Alemanha, Portugal e Austrália - neste último, na atual , que ocorre na capital de Nova Gales do Sul até 10 de junho. e a também baiana são os dois únicos nomes brasileiros da edição 2024.
Alberto Pitta
Alberto Pitta e seus tecidos na Bienal de Sydney: a exposição na White Bay Power Station, em Rozelle (Sydney), ocorre até 10 de junho.
A origem do trabalho de Pitta está nos tecidos, nas estampas que passou a criar com o objetivo de contar histórias da ancestralidade africana ao povo que não sabia ler - tudo isso fluiu para a criação de um estilo hoje conhecido como a Estética Afro-baiana.

Nela estão os orixás do candomblé, a cultura dos países africanos na origem da diáspora, e também o cotidiano de labuta e dor, mas também de alegria e resistência dos descendentes dos escravizados - não por acaso uma de suas obras encomendadas para a bienal de Sydney, em exposição na recém-inaugurada White Bay Power Station, em Rozelle, se chama “Alegria e Resistência”.
Eu desenvolvo as histórias nos panos para falar para a gente do povo que não teve a oportunidade de ir à escola, mas também falar aos que tiveram a oportunidade mas que não sabem ler os signos milenares de África. É um encontro de analfabetos.
Alberto Pitta.
Alberto Pitta visitou a redação da SBS na primeira semana de março, quando esteve em Sydney para a abertura da Bienal.

Nesta entrevista, o artista brasileiro fala do processo da criação da estética afrobaiana, relembra a transformação cultural do carnaval de Salvador, antes influenciado pela visão dos índios americanos a partir de Hollywood e que depois recuperou a origem negra, e afirma que arte não é para entendidos, e sim sobre deleite e fruição.
'O que vou fazer numa bienal se não entendo de arte?' Arte não precisa disso. Arte é deleite e fruição. Não é sobre entender, é pensar sobre. Quando você diz que não entende, você já pensou sobre aquilo. E isto é um processo de deleite.
Alberto Pitta.
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