"O medo é constante, mas não podemos deixar ele virar pânico": relatos de um cirurgião brasileiro na Austrália

Rodrigo Plens Teixeira

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O doutor Rodrigo Plens Teixeira, especialista em cirurgia plástica e reconstrutiva em dois dos maiores hospitais de Melbourne, fala sobre medo, pânico e responsabilidade social em tempos de coronavírus e sobre a única maneira de vencermos a pandemia.


Rodrigo Plens Teixeira é cirurgião plástico no Royal Children's Hospital e chefe de equipe na cirurgia plástica e reconstrutiva do Northern Hospital, ambos em Melbourne. Ele está na Austrália desde 2007 e é natural de Itapetininga, São Paulo.

"Acho que na nossa vida a gente nunca passou por um período tão desafiador como esse"

Para não sobrecarregar o sistema de saúde australiano e abrir espaço para o atendimento de pessoas infectadas pelo Covid-19, o governo suspendeu todas as cirurgias eletivas – principal área de atuação do cirurgião brasileiro baseado em Melbourne.

Apesar de não estar na linha de frente no combate ao coronavírus, Rodrigo viu sua rotina de trabalho mudar radicalmente. Em questão de horas ele se viu obrigado a tomar decisões difíceis e ver seu ambiente de trabalho tornar-se de altíssimo risco, para ele, e todos os profissionais de saúde à sua volta.

"Foi muito difícil cancelar os procedimentos, explicar para os pacientes. São noites sem dormir, muito trabalho, muita responsabilidade. O nosso maior desafio é manter uma divisão de equipes para que caso um profissional da saúde seja contaminado pelo Covid-19, ele e toda a sua equipe sejam isolados e outra equipe entre em ação."
"As coisas mudam da manhã para a tarde"

O cirurgião reconhece que está passando por uma situação que nunca passou na vida. "Ninguém nunca foi treinado para passar por algo como isso, nesse nível, nessa gravidade e as coisas mudam muto rapidamente. Estou o tempo todo em contato com a administração do hospital e mudando nossos planos conforme as informações vão chegando.

"Ainda estamos fazendo cirurgias emergenciais, como de câncer de pele, ou algo que comprometa as funções do paciente ou que cause muita dor. Pacientes ainda estão sendo operados, eu ainda tenho muito contato com cirurgia de emergência e trauma," diz.

O impacto do Covid 19 na vida das pessoas é quase impossível de mensurar, diz Rodrigo.

"O stress, a incerteza, todos estão passando por momentos muito difíceis, pessoas estão sofrendo, perdendo emprego, passando necessidade, outros conseguem trabalhar mas com medo de estarem sendo expostos.

O pânico é um dos piores inimigos da sociedade nesse momento. "Pânico leva a atitudes irracionais que podem causar mais danos que o próprio coronavírus."
Rodrigo
"Ainda estamos fazendo cirurgias emergenciais, como de câncer de pele, ou algo que comprometa as funções do paciente ou que cause muita dor," diz cirurgião brasileiro Rodrigo Teixeira, de Melbourne Source: Supplied
Para ele é vital que as pessoas mantenham a calma e façam sua parte, principamente os jovens.

"Você vê notícias de jovens aglomerados nas praias, indo a festas, realmente eles têm um risco menor -  a doença é muito mais severa nas pessoas mais velhas, pessoas que já tem problemas de saúde - mas o problema é que esses jovens vão acabar espalhando o vírus, e assim ele vai chegar nas pessoas que são vulneráveis."
A number of beaches around the country are starting to close.
"Você vê noticias de jovens aglomerados nas praias, o problema é que esses jovens vão acabar espalhando virus,” diz Rodrigo. Source: Getty
Todos devem se unir para tentar desacelerar o número de infecções/dia.  É importante não sobrecarregar o sistema de saúde, que tem limites. 

"É importante sentir medo"

Para Rodrigo, que admite que o medo é constante quando vai trabalhar, o essencial é não deixar o sentimento dominar as suas ações e se transformar em pânico.

"É importante sentir medo," analisa, "porque quando a gente não sente medo a gente pode se achar indestrutível ou invulnerável e não é o caso do ser humano.  Acho que o medo ajuda a gente a se proteger desde que seja em doses controladas e não cause pânico. Desde que faça com que as pessoas tomem mais cuidado, mantenham o distanciamento social etc " 

Ao encerrar a entrevista, Rodrigo citou uma das frases do primeiro-ministro australiano Scott Morrison que disse que apesar de não ser possível vislumbrar um fim, esse período vai acabar.
Fiquem calmos não entrem em pânico e lembrem-se que isso é uma coisa coletiva, só a comunidade estando unida é que vamos conseguir lutar da melhor maneira. Faça a sua parte em prol da comunidade. Pense em todos. Todos juntos façam esse esforço, só assim a gente vai conseguir vencer esse vírus. Apesar do distanciamento social nunca foi tão importante estarmos unidos.
Ouça o podcast completo clicando no botão play da imagem que abre essa reportagem. 

As pessoas na Austrália devem ficar pelo menos a um metro e meio de distância dos outros e encontros estão limitados a duas pessoas, a não ser que esteja com a sua família ou em casa.

Se você acredita que pode ter contraído o vírus, ligue para o seu médico, não o visite, ou ligue para a Linha Direta Nacional do Coronavírus no número 1800 020 080.

Se você estiver com dificuldades para respirar ou sofrer uma emergência médica, ligue para 000.

A SBS traz as últimas informações sobre o coronavírus para as diversas comunidades na Austrália.

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