O último adeus a uma atriz que poderia ser diva, mas preferiu ser antidiva: Monica Vitti

Monica Vitti

Monica Vitti. Source: Getty Images

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Monica Vitti marcou a revolução ‘Antonionni’ no cinema dos anos 60. A atriz italiana tinha 90 anos e sofria de Mal de Alzheimer. Seu legado ao cinema mundial é contado na crônica desta semana do correspondente do Programa Português da Rádio SBS em Lisboa, Francisco Sena Santos.


Sensual e cerebral, intelectual e popular, enigmática, profunda, versátil, poderosamente credível tanto como personagem atormentada como no riso.
No sofisticado cinema de autor como na comédia à italiana, a luminosa  Monica Vitti, hábil a explorar o feitiço daquela voz rouca é a musa – incandescente - da revolução que Michellangelo Antonioni introduziu no – efervescente - cinema dos anos 60 do século 20 com filmes de culto como "A Aventura" (1960), a "Noite" (1961), "O Eclipse" (1962), estes três a preto e branco, e depois desta trilogia, já a cores, em 1964, o "Deserto Vermelho".
Sempre com ela, Monica Vitti, como protagonista.

Poderia ser diva preferiu ser antidiva.

Mulher inquieta na vida como no ecrã é uma personagem principal do cinema moderno dos anos 60; a seguir, nos anos 70, confirmou a multiplicidade de recursos ao desembarcar como cabeça de cartaz na comédia italiana e emparceirar com estrelas dessa diversão – muitas vezes corrosiva - de então, como Alberto Sordi, Vittorio Gassman ou Ugo Tognazi e Marcello Mastroianni e nessa alegria contagiante dos filmes de Mario Monicelli e Ettore Scola ela também continuou a ser grande.
Tal como em 1974, quando ousou entrar pelo universo surrealista de Buñuel, num enredo sobre a moral com postais supostamente obscenos, no filme Fantasma da Liberdade.

Antes de tudo, antes daqueles anos 60 em que entrou pelo cinema com Antonionni, Monica Vitti tinha interpretado no palco do teatro autores como Brecht e  Shakespere – foi a escola.
Agora, aos 90 anos de idade esgota-se a vida de Monica Vitti – mas já tinha começado a sair de tudo aos 70, quando a Alzheimer começou a apropriar-se da vida dela – fica a imagem de uma atriz luminosa que marca o cinema.


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