Os professores-tutores brasileiros premiados na Engenharia da Universidade de Sydney

Os engenheiros Marcelo Carvalho, de Goiânia, e Daniel Gebbran Bacilla Ferreira, de Curitiba: os caminhos deles até a  Universidade de Sydney.

Os engenheiros Marcelo Carvalho, de Goiânia, e Daniel Gebbran Bacilla Ferreira, de Curitiba: os caminhos deles até a Universidade de Sydney. Source: Supplied

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Daniel Gebbran Bacilla Ferreira e Marcelo Carvalho demonstraram excelência ao ministrar, como professores-assistentes, aulas desafiadoras para estudantes de graduação e pós-graduação, com endosso dos próprios alunos


No início de novembro, dois engenheiros brasileiros da Universidade de Sydney foram premiados pelo desempenho como professores-tutores na Faculdade de Engenharia da instituição, relativo ao ano de 2019. Segundo a universidade, Daniel Gebbran Bacilla Ferreira e Marcelo Carvalho demonstraram excelência ao ministrar, como professores-assistentes, aulas desafiadoras para estudantes de graduação e pós-graduação, com endosso dos próprios alunos.

A premiação ocorre anualmente e é organizada pela direção das faculdades de engenharia da Universidade de Sydney. O objetivo é ressaltar o trabalho dos melhores professores, professores-tutores e funcionários. Segundo Marcelo Carvalho, colocar a mão na massa foi fundamental para ter o apoio dos alunos.
Marcelo Carvalho, na Universidade de Sydney
Marcelo Carvalho, na Universidade de Sydney Source: Supplied
"Eu diria que a figura do tutor na Austrália é bem diferente de no Brasil. São os tutores que passam a maior parte do tempo com os alunos, que corrigem as provas e trabalhos, e que auxiliam os alunos a botar a mão na massa. Então um domínio profundo do tema do qual se ensina e uma capacidade de se relacionar com os alunos de uma forma que gera empatia e ao mesmo tempo curiosidade são qualidades imprescindíveis de um bom tutor." 

Daniel Ferreira ressalta a importância do feedback na qualidade do trabalho, tanto para ele quanto aos alunos, e também crê no diferencial da didática fluida que trouxe do Brasil.
Daniel Gebbran Bacilla Ferreira lembra que a Austrália tem oportunidades de iniciar a vida que existem em poucos outros lugares.
Daniel Gebbran Bacilla Ferreira lembra que a Austrália tem oportunidades de iniciar a vida que existem em poucos outros lugares. Source: Supplied
"Eu fui reconhecido pelos alunos pela minha didática, que é muito diferente da didática normal de outros tutores, e até de professores. Acho muito engessado o sistema como eles dão aula, tutoriais e laboratórios. É um sistema muito durão e no Brasil a gente tem uma qualidade de ensino muito legal e a gente acaba nem percebendo isso, só olhando mais pra fora que pra dentro. Então, quando me candidatei para o prêmio, o próprio feedback dos alunos na universidade de Sydney me providenciou bastante conteúdo para eu desenvolver isso e falar como fui um bom tutor, por fornecer um feedback forte para os alunos, ensinando uma qualidade de conteúdo acima da média, e também como método de ensino, eficaz e que desperta interesse nos alunos."

Os dois engenheiros tiveram um longo percurso a partir da formação nas universidades brasileiras. Daniel Ferreira é de Curitiba, onde se formou em Engenharia Elétrica na UTFPR. E o programa Ciências Sem Fronteiras lhe abriu as portas para o mundo.

"Durante a universidade eu consegui um intercâmbio através do Ciência Sem Fronteira para a Dinamarca, onde estudei seis meses e descobri o que queria fazer dali pra frente, que era a área de Sistemas de Potência. E no final da graduação ainda consegui um estágio na Alemanha, de mais seis meses. Trabalhei lá como estágio obrigatório e voltei para o Brasil para apresentar a tese e me formar. Depois disso, eu trabalhei dois anos na indústria em Curitiba e estava atrás de bolsas no exterior. Consegui aceitação para três universidades diferentes, e no final minha esposa e eu escolhemos ir para os Estados Unidos, na Califórnia, onde fiz o mestrado. Também pelo Ciências Sem Fronteiras, fiz o mestrado pela Universidade da Califórnia, em Irvine, e, após este mestrado, ‘apliquei’ para mais bolsas de doutorado, aqui na Austrália para duas, na Universidade de Sydney e na Universidade de New South Wales, e também para a Nova Zelândia, nas duas universidades de Auckland. Todas por Engenharia Elétrica. Aqui na Austrália, estou com o visto de estudante de pós-graduação, que inclusive permite trabalhar."

Marcelo Carvalho é de Goiânia e se formou como engenheiro civil pela PUC de Goiás, com foco em engenharia estrutural. Entrou para a área acadêmica com projetos estruturais e análise computacional de estruturas. 

"Em 2015, decidi que seria na Austrália que eu darei continuidade aos meus estudos. Eu fui atrás das melhores universidades e potenciais orientadores. Na Universidade de Sydney, eu encontrei o orientador que trabalhava no assunto que eu tinha muito interesse, que era mecânica da fratura. E então consegui agendar uma entrevista pelo Skype com ele. Acabei sendo aprovado no doutorado e ganhando uma bolsa de estudos da própria Universidade de Sydney."

 Ao estudante de Engenharia brasileiro que sonha em prosseguir seus estudos na Austrália, Marcelo sugere paciência, disciplina e insistência em uma bolsa de estudos. 

 "Ao contrário do que muita gente pensa, o mestrado e o doutorado não são somente para aqueles que buscam carreira acadêmica, mas abrem muitas portas também para o mercado de trabalho, principalmente na Austrália. Esse tipo de profissional de alto nível é bastante valorizado. O que posso dizer aos que pensam em fazer uma pós-graduação na Austrália é que todo o processo pode demorar de um a dois anos até que você bote os pés no país. Então é preciso ter paciência. Você não precisa ser gênio ou algo do tipo, mas precisa ser disciplinado, audacioso, curioso e sonhador. Outra coisa é não se abalar com os ‘nãos’ que você ouvirá pelo caminho, pois serão muitos. Mantenha o foco no seu objetivo e não desista. Para ajudar nos custos, é importante insistir em obter uma bolsa de estudos, nem que você precise que adiar sua vinda por um ou dois semestres. E, obviamente, aprimore-se no inglês, e pesquisa bastante sobre a cultura australiana. Assim estará preparado para fazer amigos e se integrar de forma mais natural à sociedade."
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Daniel lembra que é fundamental planejar não só a área de pesquisa, mas também conciliar com os interesses pessoais. 

"As coisas mais importantes são planejamento, tanto de área de pesquisa para qual graduação a pessoa está fazendo, com o mais importante, na minha opinião, são os interesses pessoais que o aluno tenha. Não é necessariamente o interesse pessoal em pesquisar com energias renováveis, como foi meu caso, mas também pode ser alinhado com o interesse pessoal morar em certo país. Minha dica é para não restringir muito as opções. 'Quero morar em Paris. E só lá'. Talvez você não consiga morar em Paris, mas talvez perto de lá, mediante muita busca e batalha."

Daniel Ferreira também lembra que a Austrália tem oportunidades de iniciar a vida que existem em poucos outros lugares.

"Uma coisa muito importante é as pessoas analisarem quais as oportunidades que existem atualmente na área delas. Quais meios de intercâmbio, ou de graduação ou pós-graduação ou de trabalho. Aqui na Austrália é comum as pessoas ingressarem como estudantes de inglês e progredirem para graduação ou pós-graduação. Isso é muito interessante porque nos EUA praticamente não existe isso, na Europa também é mais difícil. Então é uma oportunidade grande que atraiu muita gente, e agora com a pandemia vamos ver como vai ficar. As dicas mais importantes são buscar as oportunidades e levar um dia de cada vez, mas sendo conciso na busca, mas não fazendo tudo em uma semana. Isso vai levar meses e anos de planejamento para dar certo. Basta uma oportunidade boa dar certo que você vai engatando as próximas."

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