Portugal prepara-se para a segunda pandemia: depois da sanitária, a económica e social

Ruas vazias de Lisboa em junho: segunda fase do coronavírus ameça hotéis e restaurantes em Portugal.

Ruas vazias de Lisboa em junho: segunda fase do coronavírus ameça hotéis e restaurantes em Portugal. Source: Wikimedia Commons

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Other ways to listen

O primeiro caso de Covid-19 em Portugal (um médico que tinha voltado de curtas férias em Itália) foi detetado em 1 deste março. Passados 25 dias, Portugal tem a confirmação de 2362 infetados, dos quais 30 morreram.


Mas os peritos alertam para o cenário do iceberg: os números que temos revelam a parte que está acima do nível da água. Não temos ideia sobre o que está submerso.

A lista de vítimas mortais em Portugal mostra que são mais homens do que mulheres 19/11, e a grande maioria acima dos 70 anos. Não há qualquer morte abaixo da faixa etária dos 40 anos. Apenas 4 dos 30 falecidos tem menos de 70 anos.

Os números portugueses são incomparavelmente mais atenuados do que os da vizinha Espanha onde a calamidade se expressa em 514 mortos só nesta última segunda-feira e um total de mais de 2700 mortos por este covid-19. Espanha roça os 40 mil infetados.

Em Itália, o pesadelo é ainda pior: 50 mil contagiados, mais de 6.000 mortos...2 mil nos ultimos 3 dias.

O Reino Unido demorou a reagir – agora ordenou a quarentena mas já vai com 340 mortes.

A Alemanha tem 28 mil infetados – mas apenas 114 vítimas mortais (admite-se que a excelência de cuidados médicos esteja a ser vital)

A OMS teme que os Estados Unidos venham a tornar-se epicentro da crise coronavírus (já têm mais de 46 mil contaminados e 600 mortes) e também há muita preocupação com a propagação em África. Em Cabo Verde anuncia-se a morte daquele que vai para uma semana foi detetado como primeiro contagiado – um turista inglês com 62 anos. Não resistiu. Está em curso quarentena quase geral na muito turística ilha da Boa Vista.

Os turistas estão a ser uma questão nesta crise da pandemia. Por exemplo, só em Portugal, estavam até há uma semana cerca de 10 mil turistas brasileiros. Foi ativada uma operação de repatriamento urgente correspondendo à vontade geral. Mais de 9 mil já voltaram ao Brasil, sendo que entre as centenas que permanecem há quem hesite sobre o regresso, considerando o disparo da Covid-19 no Brasil.

Tambem há o caso de 1300 passageiros de um navio de cruzeiro, o MSC Fantasia que em 9 deste março zarpou do Rio de Janeiro com destino a Marselha, em França. O navio foi impedido de atracar em França, teve autorização para acostar em Lisboa, sendo que os passageiros estão a ser transferidos diretamente do navio para a porta de voos especiais que os estão a levar para os países de origem ou locais mais próximos. O maior grupo é brasileiro e já seguiu num avião com 400 lugares para São Paulo. Há dezenas de britânicos, alemães e também australianos. Estão a ser encaminhados através de voos especiais para Londres e Frankfurt.

Tambem há 3 mil portugueses em diferentes lugares do mundo que estão a pedir ajuda ao governo de Lisboa para regressarem a casa. Está em curso esse retorno.

Em Portugal, as ruas seguem desertas, todo o comércio, exceto os supermercados e mercearias está fechado. Muitos hotéis, por exemplo o histórico 5 estrelas Ritz estão fechados, alguns estão de prevenção e poderão ser requisitados para apoio a infetados com o covid que não precisem de assistência hospitalar permanente.

Muita atividade mantém-se através do teletrabalho.

Há a noção de que quando for ganha a batalha com esta pandemia sanitária, vai explodir uma outra pandemia – a económica, com imediato ricochete social (que já está a ter).
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