Start up brasileira para mulheres que viajam sozinhas ganha prêmio global da Organização Mundial do Turismo

Jussara SisterWave

"Nas minhas viagens pelo mundo conheci muitas mulheres que viajavam sozinhas e com desafios e medos muito semelhantes," diz Jussara, criadora da SisterWave Source: Marco Torelli

Get the SBS Audio app

Other ways to listen

A plataforma brasileira Sisterwave é a primeira start up brasileira a vencer o Prêmio Global de Startups da Organização Mundial do Turismo, agência da ONU - a vencedora entre mais de 10 mil propostas concorrentes de todo o mundo. Conversamos com a criadora do serviço digital, Jussara Pellicano Botelho. "Fiz vários mochilões e conheci muitas mulheres que também estavam viajando sozinhas e com desafios e medos semelhantes, muito ligado ao julgamento e ao medo da violência contra mulher e aí eu vi que havia a necessidade de existir uma plataforma própria para a mulher, e eu pensei 'senão existe, isso precisa ser criado e eu posso criar,'" disse Jussara. A proposta de Jussara está entre as 25 premiadas pela agência da ONU pela contribuição ao turismo sustentável e responsável, ela venceu na categoria Equidade de Gênero. "Viajar é empoderamento," resume.


Mais uma conquista fantástica para as startups brasileiras cada vez mais reconhecidas ao redor do mundo por sua criatividade e inovação.

A plataforma brasileira SisterWave, inicialmente criada para apoiar as mulheres brasileiras que viajam sozinhas no Brasil, e agora expandindo para o mercado internacional, ganhou o prêmio global de start ups da Organização Mundial do Turismo (OMT), agência da ONU. A SisterWave é a primeira start up brasileira a vencer o prêmio. A proposta foi a escolhida entre as mais de dez mil propostas concorrentes.
Jussara_Sisterwave
“O que a gente fala também é a coragem, né? Que a coragem não é ausência do medo é 'ir' também com medo, " conta Jussara, que ganhou na categoria Equidade de Gênero. Source: Supplied
Jussara Pellicano Botelho conta que a SisterWave é uma comunidade onde as mulheres podem compartilhar dicas, perguntas de viagem, trocarem informação e serem companheiras de viagem uma para outra. Elas também podem contactar diretamente as moradoras locais das cidades que querem visitar através do chat disponibilizado pelo serviço.

A SisterWave já conta com 18 mil mulheres no Brasil e deve expandir para a Portugal e Espanha, e Oceania em junho de 2021.

Ser a primeira start up a receber o Prêmio Global da OMT (Organização Mundial de Turismo) foi para Jussara uma experiência ‘inenarrável’.
“A categoria que a gente ganhou, ‘Equidade de Gênero’ está na essência do que a gente faz. Nosso propósito é encorajar as mulheres a exercerem suas diversas formas de liberdade e a viagem é uma forma de empoderamento feminino e de poder usufruir dessa transformação que a viagem traz, transformação muito forte, muito interna, você nunca é o mesmo depois de uma viagem, a viagem solo.
É um momento muito especial na vida de uma pessoa que está viajando sozinha e transformador, infelizmente muitas mulheres deixam de fazer isso por conta do julgamento, do medo, inclusive de leis dos próprios países, né?
A gente trabalha muito para diminuir os obstáculos e para permitir que mais e mais mulheres se sintam livres para desbravar o mundo e se transformarem. A experiência do homem que viaja sozinho é completamente diferente da mulher que viaja sozinha.
Mercado em crescimento

Cada vez mais mulheres estão viajando sozinhas, um mercado que aumentou exponencialmente, conta Jussara.  

“Mais de 100 milhões de mulheres viajam sozinhas ao redor do mundo segundo a Forbes então é realmente uma tendência. A Europa ocupa o primeiro lugar com mais mulheres viajantes e também com o continente que mais recebe mulheres que estão viajando sozinhas.  

“Uma mulher que viaja sozinha mostra para outras mulheres que isso é possível. Então eu vejo realmente como uma onda né? Uma vai influenciando a outra. A plataforma atende à vontade de viajar com mais liberdade e também a tecnologia é um fator muito importante nisso.
O prêmio da OMT vai levar a SisterWave para a Feira Internacional de Turismo acontece em maio na Espanha. “Várias portas estão se abrindo a gente vai ter uma formação junto com a OMT. Vamos poder falar com profissionais da área tanto de turismo quanto de tecnologia”

A SisterWave, como o setor de turismo mundial, foi fortemente afetada pela pandemia da Covid19 no início de 2020. Após um ano de crescimento extraordinátio – a startup iniciou operação em 2019 – o projeto foi interrompido.

“Tivemos que nos reinventar, criamos tours virtuais que são experiências online imersivas divertidas em que as mulheres estão dentro de uma videoconferência e tem uma especialista do destino que apresenta sua cidade. O pós covid eu vejo que haverá uma demanda muito latente.  

Obstáculos para a mulher que viaja sozinha

“A viagem masculina é muito diferente da viagem feminina a gente passa por obstáculos que são invisíveis para os homens, lugares que podem parecer de ‘risco’ para as mulheres não são para os homens. Também nós mulheres, temos ‘o toque de recolher invisível’, se uma mulher está sozinnha na rua à noite e algo acontece com ela é como se a culpa fosse dela. Como se a gente não tivesse esse direito de ir e vir,” conta Jussara.

Segunda ela, o medo não vai deixar de existir, ele está sempre presente. “O que a gente fala também é a coragem, né? Que a coragem não é ausência do medo é ir também com medo.
“A plataforma foi criada a partir da necessidade da mulher brasileira de viajar sozinha de maneira segura pelo Brasil. Mas isso não é uma coisa só do Brasil. Há um ‘preconceito positivo’ com a Europa achando que lá não tem tanto assédio. Mas eu fui assediada então eu vejo isso como um problema global,”completa.

Share