Tatuador brasileiro em Sydney transforma cicatrizes de automutilação em arte

O artista Fernando Hideki, de Sydney, sabe bem o que é depressão e ansiedade. “Eu vivia em um relacionamento abusivo. Fiquei mal com aquela relação tóxica na cabeça, minha produtividade caiu muito, me afastei dos amigos, tive problemas com minha família,” conta. Esse foi um dos motivos pelos quais ele decidiu fazer parte da campanha ‘Tattoo for Mental Health’, da Beyond Blue, organização australiana de apoio à saúde mental e bem-estar.

Fernando Hideki, de Sydney: "Notei um aumento no número de pessoas me procurando para esconder cicatrizes de autoagressão e resolvi ajudar" Source: Supplied

A paixão pela tatuagem surgiu cedo para Fernando Hideki.

“Comecei a fazer tatuagens aos 15 anos de idade. Meus amigos e eu costumávamos fazer grafite e a vender alguns desenhos para estúdios de tatuagem locais.”

Os donos dos estúdios de tautagem gostaram tanto do seu trabalho que Fernando foi convidado para ser aprendiz em uma das lojas, ‘e daí não parei mais’, recorda.

De São Paulo para Dublin na Irlanda, e agora Sydney na Austrália, Fernando participou de exposições de tatuagem e skate e ganhou prêmios nos três países.

“Uma cliente me pediu para fazer borboletas, para marcar seu ‘renascimento’," conta Fernando Source: Supplied

“Me mudei para a Irlanda para ter a oportunidade de tatuar pessoas de outros países e origens diferentes. Morei lá por três anos, trabalhando para uma das lojas mais renomadas, onde participei de eventos beneficentes para saúde mental.

"Há dois anos, me mudei para a Austrália, onde fundei o projeto ‘Tatuagem para Saúde Mental’. A iniciativa visa ajudar pessoas com problemas saúde mental através do uso da arte e tatuagens delicadamente feitas sobre cicatrizes de automutilação."

A jovem Raelene escolheu a tatuagem "The Very Hungry Caterpillar", baseado no famoso livro infantil australiano para cobrir os cortes que ela fez em seu braço esquerdo. Source: Supplied

Durante o evento Tattoo for Mental Health, em Sydney, a jovem Raelene pediu para Fernando fazer a tatuagem "The Very Hungry Caterpillar", baseada no famoso livro infantil australiano para cobrir os cortes que ela fez em seu braço esquerdo.

"Meus irmãos costumavam ler muito para mim. Agora, como professora, faço o mesmo pelas crianças de quem cuido. Quero que eles entendam que é importante cuidar de si, tanto física quanto mentalmente," explica Raelene.

Raelene pediu para Fernando fazer a tatuagem "The Very Hungry Caterpillar" Source: Supplied

"Tatuagem só pode ser feita quando a pele está grossa e recuperando,” conta Fernando, que notou um aumento substancial no número de pessoas lhe procurando para esconder cicatrizes de autoagressão.

Fernando Hideki se mudou para a Austrália onde fundei o projeto ‘Tatuagem para Saúde Mental’ Source: Supplied

Tatuagens sobre cicatrizes só podem ser feitas quando a pele já está grossa, recuperando e não corre o risco de romper, ou seja, quando a autoagressão parou

Para ouvir a entrevista completa clique no link da imagem que abre essa reportagem.

Fernando Hideki no evento 'Tattoo for Mental Health' da Beyond Blue Source: Supplied

Beyond Blue oferece programas de apoio para tratar de questões relacionadas à depressão, suicídio, transtornos de ansiedade e outras doenças mentais relacionadas. Se você ou alguém que conhece se identificou com essa reportagem ou precisa de apoio, ligue para o Lifeline no 131 114.

Siga a SBS Portuguese no Facebook, Twitter e Instagram