Timor 20 anos do referendo: eurodeputada Ana Gomes elogia crescimento econômico

Ana Gomes

Source: José Goulão [CC BY-SA 2.0]

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A atual eurodeputada do Partido Socialista integrou a equipa de negociadores portugueses no processo sobre a autonomia de Timor-Leste.


É a portuguesa mais na linha da frente do combate pela independência e pelo desenvolvimento de Timor. Em 99, ela, depois de missão na ONU, comandou a diplomacia portuguesa em Djacarta.

Agora, 20 anos depois do referendo, ela escreve no diário Público uma análise, baseada em dados objetivos, que atesta como Timor progrediu nestes 20 anos.

Ana Gomes expõe assim essa evolução:

— Segundo o último relatório do PNUD sobre o Índice de Desenvolvimento Humano de 2018, que mede o progresso entre 189 países e territórios, Timor Leste figura na posição 132 (era 133 em 2016), ao lado do Bangladesh, Laos e Cambodja, entre os da sua região.

 — A população, que rondava os 800.000 em 1999, subiu para 1.290.000 em 2019.

  — A esperança média de vida subiu para 69.2, aumentando mais de 10 anos desde 1999.

— A população, que rondava os 800.000 em 1999, subiu para 1.290.000 em 2019.

 — O PIB per capita subiu em 2017/18 para 6,846 dólares (era 1054 dólares em 1999 e desceu para 967 em 2001).

 — A proporção de jovens desempregados desceu para 11,6%.

 — A percentagem do PIB dedicada à saúde subiu para 3.1%.

 — O índice de pobreza era ainda de 41.8% in 2014, mas desceu de 50.4% em 2007.

 — A agricultura continua a ser a principal actividade de subsistência para 70% da população.

— O principal recurso que financia o Estado timorense resulta dos rendimentos do petróleo. O Fundo Soberano do Petróleo, constituído em 2005, sustenta o orçamento e o desenvolvimento do país, mas garante reservas para benefício de gerações futuras.

 — O crescimento económico alcançou uma média de 10% desde 2007 e a produção interna de produtos não relacionados com o petróleo cresceu a uma média de 12%, anualmente, desde 2010.

 — O café constitui 95% das exportações de outros produtos, além do petróleo. O cultivo de arroz está a aumentar significativamente, a ponto de se prever que possa chegar para o consumo interno, dispensando importações.

 — O progresso em educação e cuidados de saúde é significativo: havia apenas 1 médico timorense em 1999. Hoje há mais de 1000, distribuídos por todo o território.

 — Desde a independência em 2002, as taxas de mortalidade infantil e maternal caíram rapidamente, as taxas de vacinação dispararam, a incidência da malária desceu 95%.

 — A taxa de inscrições de alunos nas escolas primárias subiu de 65 % em 2001 para 92% em 2013. Claro que se mantém o desafio de aumentar a qualidade da educação - onde o domínio do português é crucial (Portugal podia - e devia - fazer tanto mais! Por exemplo, programando na RTPi aulas de português para estrangeiros em horário adequado a potenciar audiências em Timor Leste).

 — Há progresso real na construção de estradas e infra-estruturas a nível nacional, incluindo estradas rurais.

 — O investimento público electrificou todo o território: de 21% das famílias que tinha electricidade em 2003, passou-se para 83% em 2016. A capacidade instalada triplicou.

 — Há progresso transformador também no sector das telecomunicações, incluindo redes internet.

 — Ainda mais significativos são os indicadores da democracia que os timorenses têm sabido construir, aprendendo com as suas próprias crises - designadamente a grave crise política de 2006, em que forças policiais e militares se enfrentaram sangrentamente. Desde então tive o privilégio de voltar a Timor Leste como observadora parlamentar da UE em todos os actos eleitorais: este jovem país já teve quatro rondas de eleições legislativas e presidenciais altamente participadas e certificadas como genuinamente competitivas, as últimas eleições em 2017/18 sendo organizadas apenas pela administração nacional, já sem ajuda das Nações Unidas.

 — Timor-Leste está classificado como um dos países mais democráticos na Ásia, figurando em 43º. lugar globalmente no Índice de Democracia publicado pela Economist Intelligence Unit, que em 2017 o posicionou como o 7º país na Ásia e Austral/Ásia, logo a seguir à India e a Taiwan.

 — Timor-Leste apresenta a maior percentagem de mulheres (38%) entre todos os parlamentos na Ásia, e da região Ásia-Pacífico, incluindo a Austrália. Está no “top 20” a nível mundial neste indicador de progresso democrático.

 — Claro que os problemas são tremendos ainda, numa nação muito jovem, com mais de 65 % da população abaixo dos 25 anos, que precisa de melhorar a qualidade da educação, da administração, da Justiça e da capacitação em geral e, ao mesmo tempo, tem de criar emprego, de diversificar a produção interna e desenvolver a exploração dos múltiplos recursos naturais, além dos estratégicos petróleo e gás - agricultura, pescas, minerais, turismo, serviços, etc.

 — É sabido que, muitas vezes, timorenses e estrangeiros (portugueses incluídos) desesperam quando confrontados com bloqueamentos que emperram a administração do país e a administração da Justiça, em particular. Bloqueamentos políticos que frequentemente parecem ter mais a ver com velhas querelas pessoais entre os líderes históricos, do que com reais divergências quanto às estratégias para o desenvolvimento e a governação do país - incluindo no combate à corrupção e às desigualdades. É uma questão de tempo os líderes históricos terem de passar a pasta a novas gerações. Mas depois, sem dúvida, novas querelas e outras disputas virão. Fundamental é que o interesse do povo prevaleça, como tem prevalecido, apesar de tudo, nestes 20 anos em que se partiu abaixo do zero, com a destruição post-referendo. Vozes houve (algumas também em Portugal) que agoiraram que Timor Leste não tinha viabilidade e não tinha capacidade de governação. A impressionante trajectória percorrida nestes primeiros 20 anos de construção nacional em Timor Leste demonstra que nunca tiveram razão. Hoje os timorenses têm esperança num futuro melhor, orgulho no seu país e confiança nas suas crescentes capacidades.

(fonte: Ana Gomes no Jornal Público via Franciso Sena Santos)

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