Uma brasileira vivendo na Arábia Saudita: “Quero tirar carteira de motorista”

vania barlow

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“Tirei foto quando vi pela primeira vez uma mulher dirigindo carro,” recorda a brasileira Vânia Barlow, que mora há 5 anos em Jedá, na Arábia Saudita. Casada com um australiano, mãe de dois filhos, engenheira civil, Vânia conta que até agora dependia de táxi, ônibus ou motorista do marido para se locomover. Mas apesar das reformas, o que realmente mudou para as mulheres sauditas?


Nessa entrevista Vânia oferece um retrato fascinante da vida na Árabia Saudita sob o rei Salman e o princípe Mohammed Bin Salman. Ela lembra que há apenas alguns anos ainda se via a polícia religiosa com um pauzinho cutucando as mulheres que mostravam um ‘osso do pé’.

Apesar de, como estrangeira, poder usufruir de algumas liberdades e ir a lugares normalmente proibidos às mulheres e homens sauditas, ela descreve um país em transformação e que mudou não apenas por pressão das mulheres sauditas, mas ’também por questões financeiras’, aponta.
Vania Barlow Saudi Arabia
Vânia vive com a família em um condomínio de alta segurança em Jedá e usufrui de muitas liberdades se comparada com as mulheres sauditas ou estrangeiras que se converteram ao islamismo. Source: Supplied
Em alguns anos ela pôde testemunhar algumas dessas mudanças; mulheres agora podem trabalhar em mais profissões, a polícia religiosa que batia nas pernas e braços das mulheres que mostravam alguma parte do corpo não existe mais, cinemas abriram, o abaya (vestido preto que cobre o corpo) agora pode ser usado em várias cores, seus filhos podem andar de bicicleta, ‘mas nunca vi uma mulher andando de bicicleta,’ diz.  

Apesar de respeitar a cultura e a religião locais “quem sou eu para julgar uma outra cultura,” Vânia conta que a realidade de alguns sauditas é muito diferente da sua realidade como brasileira e do marido como australiano. Ela por exemplo mora com a família em um condomínio de segurança máxima e sua necessidade de locomoção é minima já que o local oferece supermercado, farmácia, café, restaurante, piscina, “como se fosse um bairro,” explica. 

Mas mesmo podendo dirigir e fazendo questão de tirar sua carta, ela acredita que é hora de voltar para a Austrália e planeja o retorno com toda a família ainda este ano.

“Meus filhos têm uma liberdade vigiada que para uma adolescente vai ficando mais difícil [de lidar]. Para mim é dificil manter minha filha adolescente com uma visão de mundo que não seja tão surreal quanto a realidade que a gente vive lá, eu já tenho meus valores formados mas ela está em formação,” diz.
Vania Barlow Saudi Arabia
A família tem planos de retornar para a Austrália ainda esse ano Source: Supplied
Jedá é uma cidade da Arábia Saudita localizada no litoral do Mar Vermelho, e abriga o maior porto do país. Com cerca de quatro milhões de habitantes, é considerada a 'capital' comercial do país e a mais rica do Oriente Médio e da Ásia Ocidental.

Mulheres sauditas ainda não podem tomar certas decisões sozinhas. Cada mulher tem um guardião (wali) que tem que dar permissão para que possa casar-se, viajar ou abrir uma conta bancária, apesar de hoje já ser possível às sauditas o acesso a algumas profissões sem autorização masculina.



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