O que muda nas economias da Austrália e do Brasil depois da pandemia

Flavio Menezes

Investidores procuram governos que não vão ser irresponsáveis com o meio ambiente, mas no Brasil não se identifica isso como um problema, crê Flavio Menezes. Source: Flavio Menezes/Arquivo Pessoal

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Conversamos com o economista Flavio Menezes, da Universidade de Queensland. Ele fala da importância do atual apoio financeiro aos indivíduos, crê no aumento da participação dos governos e intensificação do processo de desglobalização no futuro


Poucas pessoas na Austrália têm tanta autoridade para interpretar o momento econômico que vivemos quanto o brasileiro-australiano Flavio Menezes, professor de economia na Universidade de Queensland.

Além do cargo acadêmico, é diretor-presidente do Queensland Competition Authority e integrante da força-tarefa do governo australiano que promove a desregulamentação da economia. Já publicou mais de 75 artigos acadêmicos e foi presidente da Associação Australiana de Economia em Queensland.

Na quarta-feira, 22 de julho, Flavio Menezes será um dos convidados a debater o comércio internacional e o futuro da globalização pós-COVID-19 em um webinar da Australia-Brazil Chamber of Commerce, a ABCC.
Segundo o professor Menezes, além de acentuar o recuo de globalização, a pandemia volta a colocar os governos em posição de protagonismo na retomada.

É o aprofundamento de uma mudança estrutural que já vinha acontecendo na economia mundial desde a crise financeira global que começou em meados de 2007. 

"Estou me referindo a redução do processo de globalização. Essa desglobalização tem várias causas. inclusive políticas, pois a globalização diminui as perspectivas de trabalhadores com baixo nível de educação e treinamento em países desenvolvidos. E isso resultou em políticas nacionalistas, na eleição de (Donald) Trump (nos EUA), no aumento do protecionismo e no aumento das disputas comerciais entre os EUA e a China. A globalização vai diminuir mais rapidamente com COVID-19 em função dos custos de logística. O processo de transporte ficou muito mais caro. E esse aumento vai ser permanente, porque além do COVID, você tem a necessidade de se combater os combustíveis fósseis para se combater o aquecimento global. Então, quando o efeito do COVID-19 passar, vamos ter que encarar de forma mais séria a redução no consumo combustíveis fósseis, o que vai implicar no aumento do custo do transporte, e nas cadeias de oferta e suprimento global vão ficar mais caras e vão acabar diminuindo."

Em vários países do  mundo, os governos têm papel preponderante para a saída da economia. Segundo Flavio Menezes, essa deve ser a tônica nos próximos anos. 

"Governos ao redor do mundo, inclusive na Austrália e no Brasil, injetaram muito dinheiro na economia. Quando tivermos uma vacina e as coisas voltarem a uma certa normalidade, vamos ter uma economia com participação muito maior do governo que no passado. Isso vai envolver, por exemplo, investimentos em infra-estrutura, tanto física quanto social, como hospitais e escolas, etc. Mas esse aumento vai gerar muitos desafios, como, por exemplo, no financiamento. Como esse aumento de gastos vão ser financiados. E países diferentes como Brasil e Austrália têm capacidades diferentes na capacidade de financiar."

No caso australiano, o papel do governo em apoiar financeiramente o pequeno empresário e o trabalhador é fundamental não só para a economia no pós-pandemia, mas também para sair dela, diz o economista. 

"Estes instrumentos todos vão funcionar muito melhor se você tiver o apoio financeiro a empresas pequenas e indivíduos, porque se o indivíduo não for trabalhar e não receber salário, é muito mais difícil você impor uma restrição às pessoas a não irem ao trabalho. Então o apoio a esses indivíduos foi uma parte importante da resposta. Uma vez superada ou contida a pandemia, e não está muito claro se na Austrália conseguimos fazer isso, o desafio grande é mudar de uma situação que o governo está dando este apoio financeiro a empresas e pessoas para uma situação em que o apoio do governo é mais indireto. Num momento o governo está subsidiando o salário de certos funcionários. Num momento em que a economia responde, o governo vai retirar esse apoio, mas não pode retirar de uma forma muito rápida, porque certos setores da economia vão continuar sofrendo os efeitos da pandemia. Por exemplo, o turismo internacional. Imagino que vá demorar bastante até nós voltarmos a ver turistas de fora na Austrália. O desafio grande é como se faz essa transição de um sistema de subsídio para empresas e trabalhadores de todos os setores da economia para um programa que seja mais focado nos setores que precisam mais desse apoio. E obviamente, o outro lado desse aspecto é a necessidade do governo em continuar a investir em infra-estrutura, tanto a física, como transporte, energia renovável, mas a infra-estrutura social, como escola e saúde. "

No caso brasileiro, a falta de resolução para problemas históricos paga um preço maior durante a pandemia.
"É muito mais difícil para o Brasil ter uma resposta adequada, porque falta tanto a capacidade da máquina administrativa do governo como a incapacidade política, pela natureza do governo atual, como também pela falta de capacidade de finanças públicas. (...) O governo australiano tem capacidade de pegar emprestado para se financiar pelo menos a médio prazo. O Brasil não tem essa capacidade. A única saída é procurar parcerias com o setor privado, com o exterior. A dificuldade é que as instituições regulatórias são fracas, os níveis de corrupção são ainda muito elevados. Essa é uma dificuldade fundamental. E além do que você tem existe a dificuldade política, fica cada vez mais claro que investidores institucionais estão procurando, por exemplo, a certeza de que os governos não vão tomar atitudes irresponsáveis em relação ao meio ambiente, por exemplo. Então estamos vendo cada vez mais investidores ativos e no Brasil uma falta de identificação de que isso é um problema. Então por um lado você precisa criar essa certeza regulatória, certeza institucional para poder atrair o investimento privado, porque, vou repetir, o governo não tem capacidade de investir. E além disso, ter esse espectro de política, por exemplo, ao meio ambiente, aos direitos humanos, ao respeito ‘as populações indígenas, cada vez mais os investidores institucionais exigem esse tipo de estrutura. Pra concluir, a situação do Brasil é bem mais complicada."

As pessoas na Austrália devem ficar pelo menos a um metro e meio de distância dos outros. Confira os limites no seu estado ou território para o número máximo de pessoas em encontros e reuniões.


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