Zai Pereira: músico brasileiro da Gold Coast lança o forró "Quando der, deu" em parceria entre Brasil e Austrália

Zai Pereira

Source: Supplied/Lucas Nogaroto

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Natural de Valença, na Bahia, o músico brasileiro lançou música gravada na Gold Coast e no Brasil. O forró foi criado usando palavras do cotidiano e contou com participação do sanfoneiro de Wesley Safadão.


Zai Pereira é músico, compositor, e mestre em história da África, Diáspora e Povos Indígenas. Natural de Valença, no estado da Bahia e mora na Gold Coast há 2 anos e meio.

Como músico, é vocalista da banda “Bloco do Zai”, além de fazer apresentações solas, duetos e como artista de rua. O baiano também dá aulas de música para adultos e crianças em Queensland, incluindo violão, teclado, piano, ukulele, percussão e canto.
Zai Pereira
Zai Pereira, músico brasileiro da Gold Coast. Source: Supplied/Lucas Nogaroto
O talento de Zai Pereira levou a artista a se reinventar durante a pandemia, quando bares, pubs e restaurantes estavam fechados e festas foram canceladas. 

“Foi daí que eu comecei a dar aulas de música para crianças, não só brasileiras, mas também australianas. Eu tenho até um aluno chinês também. Minha esposa começou a fazer bolos. Ela é chefe de cozinha. Nós nos reinventamos no período da pandemia, mas agora já está tudo bem e já voltamos a fazer nossos trabalhos nas festas brasileiras, muito aniversários, bares e pubs”.
O artista está lançando agora a música “Quando der, deu”.

“Eu compus essa música com a minha esposa quando nós fizemos uma viagem para a Sunshine Coast e resolvemos fazer uma música com palavras que a gente usa no nosso cotidiano ‘Quando der, deu, se não der não deu’. E, daí, a melodia acabou se tornando essa música. Foi uma ponte construída online entre Brasil e Austrália. Eu fiz com meu amigo Cacau Oliveira, um grande produtor de Valença”.
A canção foi uma parceria entre Brasil e Austrália e contou com a participação do sanfoneiro de Wesley Safadão. 

"Foi uma ponte construída online entre Brasil e Austrália. Eu fiz com meu amigo Cacau Oliveira, um grande produtor de Valença. Ele conseguiu músicos incríveis para fazer a produção da música. O sanfoneiro do Wesley Safadão gravou a sanfona para a gente".
Zai Pereira
Zai Pereira toca ao vivo no Emeralds Lakes Market em Carrara, Queensland. Source: Supplied/Ibis Music Photography
Além de músico, Zai Pereira também estuda Povos Indígenas e falou sobre as diferenças entre Brasil e Austrália.

“Comparando com a Austrália, eu penso que a Austrália está em um nível acima em termos de conciliação e oportunidades de políticas públicas principalmente, mas também temos muito o que avançar. Aqui na Gold Coast, a gente vê muitos poucos Aborígenes, penso que estamos muito distantes dos Povos Aborígenes. No Brasil, temos muito o que avançar em políticas públicas e terra”.

Confira abaixo a entrevista, na íntegra, com Zai Pereira:

SBS – Fala para a gente um pouco da trajetória do “Quando der, deu”.

Zai Pereira – Eu compus essa música com a minha esposa quando nós fizemos uma viagem para a Sunshine Coast e resolvemos fazer uma música com palavras que a gente usa no nosso cotidiano “Quando der, deu, se não der não deu”. E, daí, a melodia acabou se tornando essa música. Foi uma ponte construída online entre Brasil e Austrália. Eu fiz com meu amigo Cacau Oliveira, um grande produtor de Valença. Ele conseguiu músicos incríveis para fazer a produção da música. O sanfoneiro do Wesley Safadão gravou a sanfona para a gente. Esse é o primeiro lançamento de muitas outras músicas prontas que eu tenho aqui e irei lançá-las aos poucos. Depois eu quero lançar um outro álbum com outras composições antigas minhas. Eu tenho cerca de 17 composições e essa primeira está tendo uma repercussão muito bacana com o período junino e estamos muito felizes com ela.

SBS – Seu forró já está promovendo festas juninas na Gold Coast, não é mesmo?

Zai Pereira – Exatamente. Essa música era para ter sido lançada no ano passado. Como as festas juninas foram canceladas no ano passado, não deu, daí a gente está lançando esse ano.

SBS – Há uns 2 anos os brasileiros passaram os chineses e o maior grupo de estudantes estrangeiros na Gold Coast é do Brasil. Imagino que dá para perceber andando por aí, não é?

Zai Pereira – Sem dúvida. A gente sempre encontra brasileiros por todo o lado. 

SBS – Como foi passar a pandemia aí como músico para você e sua mulher?

Zai Pereira – Há 2 anos nós decidimos vir para cá. Eu era professor de história no Brasil, além de músico, e minha esposa era advogada. Essas eram duas áreas que estavam bastante precárias no Brasil por conta de algumas questões do governo. Nós queríamos aprender inglês e descobrir outras culturas e a Austrália pareceu perfeito para a gente. É um país que fala inglês, que tem um clima similar com o Brasil, um pouco mais quente. Nós já tínhamos uma amiga que estava aqui e ela passou todas as informações para a gente. No período da pandemia ficou um pouco complicado, porque a gente não podia tocar em nenhum lugar. Foi um período que a gente teve que se reinventar também. Foi daí que eu comecei a dar aulas de música para crianças, não só brasileiras, mas também australianas. Eu tenho até um aluno chinês também. Minha esposa começou a fazer bolos. Ela é chefe de cozinha. Nós nos reinventamos no período da pandemia, mas agora já está tudo bem e já voltamos a fazer nossos trabalhos nas festas brasileiras, muito aniversários, bares e pubs.

SBS – Você está com 34 anos, qual foi o tipo de visto que vocês vieram para a Austrália?

Zai Pereira – Viemos com o visto de estudante e o plano é ficar por aqui nesse período e se tudo der certo conseguir a cidadania.

SBS – Como é que você se encontrou músico? Se bem que dizem que todo baiano já nasce músico, não é?

Zai Pereira – A gente não nasce, a gente estreia. A Bahia é famosa por ter essa cultura artística muito forte. Eu canto e toco desde criança. Isso surgiu na minha família. Meu pai canta e toca muito bem. Minha família tem uma veia artística para o lado da fotografia e da música. Eu sempre fiz muito forró com o meu pai. Queria aproveitar também para mandar um abraço bem grande para a minha família no Brasil. Meu pai tocava violão e a gente chegou a comprar um teclado para fazer uma música. Depois ele me colocou para fazer aulas de teclado. Daí eu cansei um pouco do teclado e decidi aprender violão. Na Bahia eu já tinha criado a minha banda que tinha um nome indígena, em homenagem aos povos indígenas que habitavam a cidade de Valença. A gente sempre tocava em festas, bares, pubs e restaurantes e teatros também. No período de 2012 eu fiz uma trilha sonora para uma peça musical, chamada “Órfã do Rei”, que foi uma peça escrita por um escritor angolano, que conta a história de órfãos que eram enviados de Portugal para Angola. Eu fui apresentar essa peça fazendo a trilha sonora ao vivo lá em Angola, em um festival de teatro internacional, só com países de língua portuguesa. Foi uma das melhores experiências da minha vida. Foi a minha primeira viagem internacional. Ficamos 3 dias em Luanda. Foi uma das experiências mais enriquecedoras da minha vida. Quando eu voltei, eu comecei a compor músicas para amigos e situações especiais. Eu fui desenvolvendo isso aos poucos e algumas dessas músicas já estão prontas e outras eu ainda tenho que finalizar, mas eu tenho cerca de 18 composições e pretendo lançá-las aos poucos.

SBS – Com as novas tecnologias, você acha que ficou mais fácil de fazer música?

Zai Pereira – Ao mesmo tempo que ficou mais fácil publicar, porque você não precisa mais criar CD’s, por exemplo, o acesso a música está mais fácil. Porém, a competitividade também está maior. Só no Brasil, o pessoal lança 30 mil músicas por dia. Ao mesmo tempo que tem muito aplicativo de música, as rádios também aumentaram seu potencial de divulgação com as rádios online. Acho que a criatividade conta muito nesse momento. Quem domina os meios de comunicação e tecnologia, como Instagram e Facebook, tende a se dar melhor.

SBS – Você é Mestre em História da Arte e Povos Indígenas, o que você poderia dizer da diferença dos Povos Indígenas do Brasil e da Austrália?

Zai Pereira – Antes de vir para cá eu já pesquisava sobre as questões dos Povos Aborígenes. Eu tenho um projeto de pesquisa em andamento, eu tenho vontade de fazer um Doutorado em Educação aqui exatamente sobre os Povos Aborígenes. O meu objetivo é o de justamente fazer uma pesquisa comparativa sobre os Povos Indígenas da Austrália e com os Povos Indígenas do Brasil. No Brasil, nós estamos vivendo um período de genocídio dos Povos Indígenas, cada vez pior com os avanços das queimadas e dos grileiros na Amazônia e em outras regiões. Comparando com a Austrália, eu penso que a Austrália está em um nível acima em termos de conciliação e oportunidades de políticas públicas principalmente, mas também temos muito o que avançar. Aqui na Gold Coast, a gente vê muitos poucos Aborígenes, penso que estamos muito distantes dos Povos Aborígenes. No Brasil, temos muito o que avançar em políticas públicas e terra.


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