Brasileira relata 'tratamento desumano' em hospital de Sydney

Daniela

Daniela Liermann Luiz na área de espera do hospital esperando para ser atendida: 'Dor insuportável, " Source: Supplied

Com fortes dores nas costas e náusea, a esteticista Daniela Liermann Luiz, de 28 anos, de Sydney, conta que estava semi consciente quando chegou ao hospital Bankstown-Lidcombe. Do tempo de espera no estacionamento do hospital, até finalmente conseguir um quarto e ser atendida, ela descreve os problemas que teve para ser admitida no hospital após ter sido considerada contato próximo de alguém com Covid. “Ameacei chamar a polícia se os enfermeiros me mandassem mais uma vez de volta para casa,” disse Daniela, à SBS em Português.


Daniela veio para a Austrália de Joinville Santa Catarina, como o marido e filho em 2016.

Ela mora no bairro Peakhurst, zona sul de Sydney.

Daniela e o marido Filipi entraram em contato com a SBS Português para falar sobre o tratamento que receberam no hospital Bankstown-Lidcombe, onde ela teve que dar entrada na emergência no dia 14 de julho.

Ela conta que no dia anterior começou a sentir fortes dores nas costas e náuseas. Mesmo após tomar remédios contra a dor em casa, o forte mal-estar ainda continuou no dia seguinte. 


Destaques

  • Daniela foi ao hospital de Bankstown-Lidcombe com fortes dores nas costa e náuseas causadas por constipação intestinal e retenção urinária severas. 
  • Por ser um contato próximo de alguém com COVID-19, Daniela relata que o hospital demorou para atendê-la em um primeiro momento.
  • Daniela acredita ter desenvolvido uma grave infecção nos rins por conta de negligência médica.
  • Em nota à SBS em Português o hospital de Bankstown-Lidcombe afirma não ter negado atendimento e suporte à Daniela. 

Daniela estava em sua casa cumprindo período obrigatório de quarentena de 14 dias após ter sido denominada um contato próximo de uma pessoa que testou positivo para COVID-19 em uma agência bancária que ela havia frequentado.

Por conta disso, recorda que, com as dores se tornando insuportáveis, teve que ligar para o serviço de emergência (000) para que mandassem um médico para sua residência.
Daniela Liermann Luiz Hospital
Daniela teve que consultar vários médicos, passar por dois hospitais para ter um diagnóstico correto e tratamento adequado. “Depois que saí, não queria mais voltar ao hospital, estava cansada, traumatizada,” disse, à SBS em Português. Source: Supplied
“O médico simplesmente chegou na porta da minha casa e nem sequer me examinou. Ele me deu um remédio parecido com a morfina, Endone, e disse para eu ligar e ir para o hospital caso eu piorasse”, recorda.

Segundo ela, a dor continuou aumentado e ela e o marido resolveram ir para a emergência do hospital de Bankstown-Lidcombe. "Ligamos e deram com o telefone na nossa cara, foi quando não aguentava mais e resolvi ir ao hospital."

Uma vez na recepção do hospital, os problemas por ter estado em um lugar onde uma pessoa com Covid esteve, e estar saindo de um período de quarentena, tomaram proporções que Daniela não esperava.

Ao informar na recepção que era um contato próximo de alguém com COVID-19, Daniela conta que o hospital negligenciou seu atendimento em um primeiro momento, mesmo ela tendo testado negativo duas vezes para a COVID-19. Um dos testes feitos no próprio hospital.
Eu estava berrando de dor no carro, pediram para eu ficar lá, e o enfermeiro que estava na frente do hospital disse que não poderia nos atender porque éramos contatos próximos de alguém com COVID-19. Só depois de meia hora eles arrumaram um quarto para mim e me deixaram entrar no hospital
Segunda ela, o médico então fez alguns exames de rotina e disse que não havia muito o que fazer mesmo com Daniela ainda sentindo muita dor.

“O médico me disse que havia resolvido meu problema e como eu era contato próximo da COVID-19, eu teria que ir para casa, não poderia ser admitida. No caminho para a casa eu vomitei de dor e desmaiei. Daí voltamos para o hospital.”

Daniela teve então que esperar deitada nas cadeiras de espera do hospital até que os enfermeiros decidiram atendê-la novamente e um médico a mandou de volta para a casa com um catéter urinário por 10 dias.
Daniela Hospital Bankstown-Lidcombe
Daniela teve que aguardar atendimento deitada nas cadeiras da sala de espera do hospital Bankstown-Lidcombe enquanto agonizava de dor. Source: Supplied
Não satisfeita com o catéter e falta de diagnóstico, Daniela decidiu consultar com uma médica brasileira de sua confiança, que lhe alertou sobre o catéter e para ir a um hospital para retirá-lo.

Daniela resolveu então ir ao Hospital de Saint George. Ali, Daniela, que tinha confirmado suas suspeitas de constipação intestinal severa e retenção urinária, foi alertada que o catéter tinha causado um princípio de infecção urinária que estava atingindo os rins.

Após ter sido bem atendida e medicada no hospital de Saint George, Daniela foi liberada para continuar o tratamento com sua médica de família.
Minha médica me disse que eu fiz bem em ter ido ao hospital, porque se eu não tivesse ido ela não saberia o que poderia ter acontecido comigo, já que a infecção estava nos rins
Daniela Catéter
Daniela com o catéter colocado pela equipe médica do hospital de Bankstown-Lidcombe. Segunda ela, houve negligência médica em seu caso. Source: Supplied
Apesar do susto, Daniela passa bem e continua o tratamento em casa com medicação.

Mas, segundo ela, tudo isso poderia ter sido evitado caso o hospital Bankstown-Lidcombe tivesse um protocolo para tratar de pacientes que são contatos próximos de caso positivo de COVID-19.

“A gente fica triste, porque eles poderiam ter resolvido isso já na quarta-feira. Foi uma negligência médica ter me deixado com esse catéter por dias. Eu poderia ter morrido se não tivesse ido ao hospital de Saint George. Foi desumano. Eles não têm estrutura para atender às pessoas separadas em todos os hospitais e nem mesmo dão informações sobre o que fazer se você é um contato próximo”.

O hospital de Bankstown-Lidcombe refuta que tenha negado atendimento e suporte à Daniela.

Confira abaixo a reposta do hospital Bankstown-Lidcombe à SBS Português:

“Todos os pacientes que comparecem ao Departamento de Emergência do Hospital Bankstown-Lidcombe são triados e tratados de acordo com sua condição. Em alguns casos, são tomadas precauções para garantir a segurança de outros pacientes e funcionários. Como esta paciente era um contato casual de um caso de COVID-19, ela foi transferida para uma zona de isolamento preventivo, onde foi testada para COVID-19 e retornou um resultado negativo. Embora não possamos comentar sobre o atendimento individual devido à privacidade da paciente, podemos confirmar que a paciente recebeu atendimento no Departamento de Emergência, incluindo uma variedade de testes de acordo com sua condição e diagnóstico subsequente. Como acontece com todos os pacientes, ela também recebeu informações adequadas para acompanhamento dos cuidados após receber alta. O Hospital Bankstown-Lidcombe também entrou em contato com a paciente para fornecer suporte extra.”
NSW Health Daniela resposta
Resposta do Departamento de Saúde de Nova Gales do Sul/NSW à SBS Português. Source: NSW Health

Ouça o relato completo da esteticista brasileira Daniela Liermann Luiz com detalhes sobre o que teve que fazer para ser admitida no hospital. "Espero que meu relato alerte as pessoas e que ninguém passe pelo que eu passei."
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Brasileira relata 'tratamento desumano' em hospital de Sydney

SBS Portuguese

06/08/202115:21
 


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