“Os portugueses residentes em Timor estão a viver uma situação insustentável”: professores querem repatriamento

Portuguese teachers in East Timor

Portuguese teachers in East Timor Source: Camoes Institute

Professores portugueses em Díli, provocados por causa do Covid-19, estão a pedir o repatriamento.


A despoletar a preocupação, este facto: uma professora portuguesa colocada em Timor-Leste escreveu uma carta à Federação Nacional Portuguesa dos Professores (Fenprof) em que afirma que “os portugueses residentes em Timor estão a viver uma situação insustentável” com a chegada da covid-19 ao país. 

Pedem, portanto, ao governo português que os apoie no repatriamento.

Em causa estão professores de origem portuguesa envolvidos em dois projectos de ensino ligados a iniciativas de cooperação entre Portugal e Timor-Leste.
No Centro de Aprendizagem e de Formação Escolar (CAFÉ) trabalham cerca de 140 professores (espalhados por 13 municípios), enquanto na Escola Portuguesa de Díli trabalham à volta de 60 docentes.

Na sua maioria, os cerca de 200 professores estão em Timor-Leste ao serviço do Estado português como cooperantes.

Estão colocados em diferentes cidades e dão aulas a mais de 1000 alunos.

O jornal Público revela que, há uma semana, um timorense entrou na Casa dos Professores, em Baucau, tendo agredido uma professora.

Uma outra professora foi também alvo de uma tentativa de agressão quando se deslocava num transporte público em Baucau e foram também atiradas pedras à casa onde viviam.

Há também relatos de agressões verbais, com os portugueses a serem apelidados de “coronas” nas ruas.
Sabe-se que a Embaixada de Portugal em Timor fez instalar esses professores de Baucau num hotel em Dili.

Autoridades diplomáticas portuguesas, em Lisboa, já tinham conhecimento de que portugueses, tal como outros cidadãos estrangeiros, continuam a ser alvo de ofensas, sendo acusados por alguns timorenses de serem responsáveis pela chegada da pandemia Covid-19 a Timor.

Na quarta-feira, na sua conta Facebook, o prémio Nobel da Paz e ex-presidente de Timor, José Ramos-Horta, pediu desculpas, como cidadão de Timor-Leste, pelas críticas que alguns compatriotas têm feito contra os cidadãos e agências estrangeiras, incluindo a ONU, presentes no país:

“Peço desculpas a todos os nossos hóspedes que trabalham nesta terra amada quando algum timorense vos desrespeita. Como cidadão de Timor-Leste curvo-me, baixo a cabeça, e peço-vos desculpas”, escreveu Ramos Horta.
Na carta que enviou à Fenprof, a professora portuguesa em Timor, que pediu o anonimato mas autorizou a revelação da missiva, diz que “perante o agravamento da pandemia de Covid-19, e respectiva chegada ao território de Timor-Leste, os portugueses cooperantes residentes em Timor, em desempenho de funções docentes, vêm manifestando, utilizando os canais hierárquicos estabelecidos, a vontade de ser repatriados até à conclusão da crise actual”.

Em Lisboa, os ministérios da Educação e dos Negócios Estrangeiros estão a acompanhar a situação, em articulação com a Embaixada em Dili. 

Há vontade de tratar o assunto em modo discreto.

Timor conquistou um lugar especial no coração dos portugueses. 

Portugal parou, há 20 anos, em apoio à luta do povo timorense pela libertação e pela paz.

Cresceu então uma extraordinária cadeia de solidariedade.

Hoje, há a noção de que as novas gerações timorenses vão rompendo esses laços afetivos com Portugal, mantidos no entanto pelas gerações da luta de libertação, com Ramos-Horta como expoente.

É comum ouvir-se em Portugal mágoa pelo progressivo afastamento afetivo de Timor – e há mesmo esforços e iniciativas, designadamente no âmbito da cooperação cultural, para manter vivo o relacionamento privilegiado.

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