A importância de se dialogar sobre as emoções com os filhos

Paula Tura

Paula Tura, que está lançando o livro “A luminosa história de Lino Luz”, terceiro de uma coletânea de cinco livros infantis sobre diversidade. Source: Paula Tura/Supplied

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Lançando seu terceiro livro infantil, a pedagoga Paula Tura comenta sobre a necessidade de se falar sobre diversidade com crianças, diz "faltar um axé" na cultura australiana e ressalta a importância de manter as emoções às claras


Falar das diferenças para focar no que nos une é uma tônica no trabalho infantil da escritora brasileira Paula Tura. Moradora da Sunshine Coast, em Queensland, ela está em vias de lançar seu terceiro livro, chamado “A luminosa história de Lino Luz”, que em inglês ganhará o nome de “The Tale of Lino Moonlight”.

O livro conta a história de um menino albino e é o terceiro de uma série de cinco que Paula Tura pretende lançar, e que parte da ideia de empoderamento de um grupo minoritário. A obra traz uma discussão crítica através da brincadeira, o que dá nova perspectiva ao lidar com o que é diferente -- uma dificuldade que muitas famílias ainda encontram.
"A luminosa história de Lino Luz" tem ilustrações de Ana Maeda.
"A luminosa história de Lino Luz" tem ilustrações de Anna Maeda. Source: Supplied
Aos 46 anos e vivendo na Austrália desde 2014, Paula Tura é pedagoga com experiência no Brasil e na Austrália. E do outro lado do mundo ela passou a dar mais vazão ao seu lado artista, que dialoga o tempo todo com a carreira como educadora.  

Nesta conversa com a SBS em português, Paula Tura fala sobre seus livros e também sobre os problemas que enxerga na educação australiana, e da importância do diálogo sobre nossas emoções entre mães, pais, filhas e filhos.
Falar de diversidade com crianças

“Eu estou lançando o terceiro livro infantil de uma coletânea de cinco, num trabalho de inclusão e diversidade. O primeiro foi “Madeixas”, a história de uma menina negra que tem um cabelo muito curioso e a leva para uma aventura.  O segundo livro é “O desejo de Nina”, uma criança que mora à beira mar e quer ser uma sereia. E esse terceiro se chama “A luminosa história de Lino Luz”, a história de um menino albino que é filho da Lua. As ilustrações dos dois primeiros livros foram feitas por uma ilustradora brasileira chamada Priscila Barbosa (...). E esse terceiro livro foi feito por uma ilustradora também brasileira chamada Anna Maeda. Essas meninas estão também no Brasil, eu sempre trabalho com mulheres na construção desses livros, que levam um tempão, a média de um ano para fazer um livro infantil.“

“A luminosa história de Lino Luz” traz a abordagem que Paula Tura, uma imigrante latina e feminista, dá ao empoderamento de um menino albino. Traz a diferença para focar nas semelhanças. 

“A minha ideia foi dar voz a minoria, dar uma voz a quem não tem voz. Porque eu também, como imigrante, latina e feminista, me vejo sem voz. Então pensei, gente, preciso me juntar a essa minoria que a gente não vê presente. As crianças vão pra escola, tem escolas específicas para criança com deficiência física e intelectual, é tabu você falar sobre cor de pele, é tabu falar sobre como é viver com deficiência. Especificamente sobre ‘A luminosa história de Lino Luz’ é a história de um menino albino, e na África eles têm bastante preconceito com essas pessoas, porque acreditam que eles são bruxos, têm poderes sobrenaturais. E cada livro que eu publico também existe o oposto, grupos de pessoas que trabalham para empoderar essas crianças, e essas pessoas que apresentam essa bela diferença. E cada vez que eu apresento uma contação de história, porque a minha jornada... eu tive que criar como eu alcanço um público. Eu não me satisfaço apenas de criar e vender os livros online, eu gosto de encontrar esses leitores. E aí escrevo uma peça e apresento esse livro através de um teatro, e eu visito escolas, escolas comunitárias em português em Sydney e Brisbane, visito escolas de educação infantil e escolas primárias, e sempre há uma identificação com as crianças porque o personagem do livro é uma criança. Não há uma deficiência, não há uma percepção de que é algo difícil. As crianças são sempre muito acolhedoras. E aí o papel do adulto é que é interessante. Os meus livros sempre trazem questionamentos. Então às vezes é um livro que, se a família tem dificuldade em lidar com aquela informação, ela vai pensar duas vezes se vai levar aquele livro pra casa. Na maior parte das vezes, os livros são recebidos pelas famílias de muito bom grado. Minha ideia enquanto escritora é sempre trazer uma reflexão crítica através da ludicidade, da brincadeira, da música quando apresento a história. E depois a gente parte para questões mais sérias, porque as ilustrações apresentam aquela questão que estou levantando. A questão das cores, página por página do conteúdo do livro com a ilustração, porque muitas vezes as crianças têm diversas faixas etárias, então ele pode ler sozinho, e lê através dos desenhos quando não é alfabetizado. Ele pode perceber todo o contexto do livro através das imagens”

Falta um "axé" na cultura australiana

Paula Tura trabalhou como coordenadora pedagógica na Austrália, o que lhe rendeu o patrocínio ao visto permanente. Apesar dos níveis educacionais australianos serem altos, ela vê o sistema educacional do país como muito racionalizado e com pouco espaço para o desenvolvimento pleno do ser humano. 

“Eu venho pesquisando as escolas profundamente aqui na Austrália, porque sou pedagoga, trabalhei com educação infantil aqui como coordenadora pedagógica, tenho muitos anos de trabalho em educação no Brasil. E sempre digo que culturalmente a Austrália deixa a desejar. Falta um axé, falta uma vibe, falta cultura, falta trazer criação para sua vida. Você vai na casa das pessoas não tem quadros nas paredes, não têm celebrações no calendário, não tem rituais. Eu sou extremamente adepta da cultura brasileira, sou uma fã dos rituais que a gente tem, das celebrações, carnaval, festa junina, festivais católicas, umbandistas e indígenas. Adoro, sinto muita falta disso. Com relação às instituições escolares, vejo que há sim um distanciamento muito grande da questão social. Percebo que nesse pouco tempo que minha filha está na escola, vejo que é uma coisa muito racional. Então estuda-se o cérebro e a gente dá uma educação baseada nas aptidões cerebrais, no desenvolvimento intelectual, e eu entendo a criança e o ser humano como seres integrais. Então você tem aspectos sociais, físicos, espirituais, não necessariamente religião, mas você tem uma crença, quem sou eu, o que estou fazendo aqui, para que estou aqui? E vejo que isso não é levado em consideração. (...) A minha aventura agora está sendo buscar uma escola independente, não com o viés religioso, porque elas são ainda mais rígidas, mas uma escola independente onde a questão da criticidade, da auto-crítica, da reflexão sobre quem eu sou seja mais validada. Porque é assim que eu tento promover enquanto autora.”
Paula Tura e a filha Lia, em entrevista anterior no estúdio da SBS, em 2018.
Paula Tura e a filha Lia, em entrevista anterior no estúdio da SBS, em 2018. Source: Supplied
Diálogo sobre emoções, a chave para criar os filhos

O desenvolvimento da criança passa necessariamente pelo núcleo familiar. Paula Tura enxerga na pandemia uma oportunidade para revermos nossos valores. E ressalta a importância do diálogo em casa para fazer com que a geração que estamos criando seja melhor que a nossa. 

”Novamente com essa pandemia, as pessoas puderam ter a possibilidade de trabalhar de casa. E com isso algumas famílias conseguem ter um equilíbrio entre vida familiar e trabalho muito melhor. E realmente perceber o quanto a gente precisa pra viver. Eu preciso de quanto dinheiro, e o de quanto de tempo eu quero estar presente, quanto eu quero que a família participe das minhas atividades, inclusive profissionais.  Muitas pessoas ficam questionando, mas eu preciso pagar essa conta, mas eu quero ter tal carro, mas passaram os anos e você ficou distante dos filhos por uma questão material. Essa crise mundial que a gente está vivendo também mostra isso. Quais são os seus valores? Eu acho que, com o diálogo, se nós formos uma geração que consegue conversar com nossos filhos sobre nossas dores, sobre nosso receios, sobre nosso planos, mesmo que não vão adiante, mas que você tenta e se frustra, conversar abertamente com as crianças hoje em dia é algo imprescindível. Se conseguíssemos fazer isso, essa geração de crianças será extremamente superior à nossa.”

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