O Camões de 2020 para o linguista português Vitor Aguiar e Silva

Vítor Aguiar e Silva, distinguido com o Prêmio Camões 2020.

Vítor Aguiar e Silva, distinguido com o Prêmio Camões 2020. Source: Universidade de Coimbra


Vítor Manuel Aguiar e Silva, autor uma Teoria de Literatura (1967), estudada por sucessivas gerações de universitários e de um conjunto de decisivos ensaios camonianos, é o distinguido com o Prémio Camões de 2020, o mais prestigiado prémio destinado a autores da língua portuguesa.

Este professor reformado da Universidade do Minho, figura internacionalmente reconhecida no campo da Teoria da Literatura, tem-se dedicado ainda à investigação da literatura portuguesa dos períodos maneirista, barroco e modernista.
É o terceiro ensaísta a ser distinguido, depois do português Eduardo Lourenço e do brasileiro Antônio Candido.

Aguiar e Silva foi escolhido por maioria por um júri constituído pelos ensaístas portugueses Carlos Mendes de Sousa, da Universidade do Minho, e Clara Rowland, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, pelo ensaísta e poeta brasileiro Antônio Cicero, pelo professor Antônio Hohlfeldt, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, pelo moçambicano Nataniel Ngomane, da Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, e ainda pelo escritor e jornalista guineense Tony Tcheka. 

Aguiar e Silva, além de ter estado na génese do Instituto Camões, Vítor Aguiar e Silva também coordenou a Comissão Nacional de Língua Portuguesa (Cnalp), tendo sido ainda membro do Conselho Nacional de Cultura. E foi um dos signatários da petição "Em Defesa da Língua Portuguesa contra o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa".

Criado por Portugal e pelo Brasil em 1988 e atribuído pela primeira vez no ano seguinte, o Prémio Camões tem hoje um valor de cem mil euros.

Há empate a 13, entre Portugal e Brasil, na lista de premiados. O Camões foi cinco vezes para autores da África lusófona.

A lista de premiados abriu com três autores mais conhecidos enquanto poetas do que por outros géneros que também praticaram: Miguel Torga, João Cabral de Melo Neto e José Craveirinha, tendo-se seguido quatro romancistas: Vergílio Ferreira, Rachel de Queiroz, Jorge Amado e José Saramago.

Em 1996, o prémio distinguiria pela primeira vez um ensaísta, Eduardo Lourenço, opção que se repetiria dois anos depois com o brasileiro Antônio Candido. Em 1997 ganhara o romancista Pepetela, e nos anos seguintes parecia estar a instalar-se um princípio de alternância entre poetas e ficcionistas: Sophia em 1999, o romancista Autran Dourado em 2000, Eugénio de Andrade em 2001 e Maria Velho da Costa em 2002. Mas esta última deu início a uma nova sucessão ininterrupta de ficcionistas, com Rubem Fonseca, Agustina, Lygia Fagundes Telles, Luandino Vieira, Lobo Antunes e João Ubaldo Ribeiro.

A poesia só regressou em 2009 com Arménio Vieira, a quem se seguiram mais dois poetas: Ferreira Gullar e Manuel António Pina. Desde então, o prémio tem distinguido sobretudo romancistas, com as excepções de Alberto Costa e Silva, em 2014, e Manuel Alegre, em 2017, que apesar da sua considerável obra narrativa, continua a ser mais reconhecido como poeta. 

Seguiram-se o escritor cabo-verdiano Germano de Almeida e, no ano passado, o brasileiro Chico Buarque, que ainda não recebeu o prémio por o presidente Bolsonaro ter recusado participar na assinatura conjunta do diploma.

Neste 2020, o Camões atribuído a Vitor Aguiar e Silva, um linguista especializado precisamente em Camões.

Lista dos distinguidos com o Prémio Camões:

1989 -- Miguel Torga, Portugal

1990 -- João Cabral de Melo Neto, Brasil

1991 -- José Craveirinha, Moçambique

1992 -- Vergílio Ferreira, Portugal

1993 -- Rachel Queiroz, Brasil

1994 -- Jorge Amado, Brasil

1995 -- José Saramago, Portugal

1996 -- Eduardo Lourenço, Portugal

1997 -- Pepetela, Angola

1998 -- António Cândido de Mello e Sousa, Brasil

1999 -- Sophia de Mello Breyner Andresen, Portugal

2000 -- Autran Dourado, Brasil

2001 -- Eugénio de Andrade, Portugal

2002 - Maria Velho da Costa, Portugal

2003 -- Rubem Fonseca, Brasil

2004 -- Agustina Bessa-Luís, Portugal

2005 -- Lygia Fagundes Telles, Brasil

2006 -- José Luandino Vieira, Portugal/Angola

2007 -- António Lobo Antunes, Portugal

2008 -- João Ubaldo Ribeiro, Brasil

2009 -- Arménio Vieira, Cabo Verde

2010 -- Ferreira Gullar, Brasil

2011 -- Manuel António Pina, Portugal

2012 -- Dalton Trevisan, Brasil

2013 - Mia Couto, Moçambique

2014 - Alberto da Costa e Silva, Brasil

2015 - Hélia Correia, Portugal

2016 - Raduan Nassar, Brasil

2017 - Manuel Alegre, Portugal

2018 - Germano Almeida, Cabo Verde

2019 - Chico Buarque, Brasil

2020 - Vítor Aguiar e Silva, Portugal

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