Tragédia incontrolável com a violência jiadista no nordeste de Moçambique

People await the arrival of more ships from Palma district with people fleeing attacks by rebel groups, in Pemba, Mozambique, 29 March 2021.

Source: AAP

Os 30 segundos de um depoimento recolhido num centro de acolhimento de refugiados em emergência, na cidade de Pemba, ilustra a dimensão da calamidade em curso no norte de Moçambique.


O repórter Pedro Martins, enviado da RTP aquela região, dirige-se a uma mulher com à volta de 40 anos, visivelmente destroçada. Ela tenta conseguir notícias da família. O repórter pergunta-lhe se está a saber do pai. Ela responde que não, esse morreu, na semana passada. O irmão, também morreu na semana passada, ambos degolados pelos terroristas jiadistas. Dos filhos nada sabe. Ela foi obrigada a fugir como pôde, depois de ver o pai e o irmão a serem degolados. É assim, contado por esta mulher:

Multiplica-se casos assim nesta barbárie em curso vai para 10 dias com foco na cidade de Palma. Dos milhares de residentes, parece não restar nenhum.

Os sobreviventes estão em êxodo, ou ainda na floresta densa, ou já chegaram ao centro de refugiados em Pemba, ou então perderam a vida.

Continua a não se saber quantos são os mortos.

Passados 10 dias sobre a mais feroz ofensiva jiadista, as tropas moçambicanas ainda não conseguiram retomar o controlo de Palma. Também não conseguiram ainda lançar buscas de eventuais sobreviventes na cidade.

Na zona, estava em curso a instalação pela Total da maior exploração petrolífera e de gás na costa oriental de África. Mas a empresa francesa deu nesta semana ordem para retirada total de todo o pessoal. Com esta retirada também ficam interrompidos os voos que a ONU, através do Programa Alimentar Mundial, estava a usar para encaminhar alimento e abrigos para refugiados na região.

Estas pessoas em êxodo estão agora ainda mais à deriva.

Está em curso um desastre humanitário, causado por guerrilheiros jiadistas, que aterrorizam, matam, decapitam e forçam ao êxodo dezenas de milhares de pessoas, ao mesmo tempo que bloqueiam interesses vitais para o desenvolvimento do país e para a região, no caso a colossal exploração de hidrocarbonetos. Depois de Mocímboa da Praia e com o que está agora a acontecer em Palma, a situação no terreno é cada vez mais grave.

Há alguns enigmas em tudo isto. Como é que estes jiadistas tiveram tempo e capacidade para crescer, nestes três anos e meio, desde outubro de 2017, data do primeiro ataque em Mocímboa da Praia? Além de fatores políticos e religiosos, que outros fatores explicam este crescimento? Como é possível, com interesses tão importantes em jogo e com vidas decapitadas, não ter havido uma resposta capaz, nem do Estado moçambicano, nem dos atores regionais, nem da “comunidade internacional”?

Como vai ser daqui para a frente? A incógnita subsiste, angustiante.

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